sexta-feira, 28 de agosto de 2009

CRÔNICA: O LIXO E O GARI

Numa cidade os carros passam, as pombas olham, os prédios mostram seu poder vertical, ambulantes vendem produtos, fazem barulho e chamam a atenção dos que passam. As vendedoras na porta de cada loja aguardam o fregues, as turmas saem do cursinho, das escolas, formam rodinhas ficam papeando, paquerando com suas camisetas de banda de rock, listradas, os sapatos vermelhos das meninas, as pessoas passam, vem e vão, há dois homens conversando numa lanchonete.
Perto dali há um gari, ele varre todo dia as ruas do centro, as calçadas, as praças, as avenidas movimentadas, a frente das escolas, dos bares, das lanchonetes, dos bancos... Este gari está no calçadão do centro perto de uma igreja, há pouca gente por perto. Ele é um rapaz novo não deve passar dos 25 anos, já tem família um bebe e sua mulher que o esperam em sua casa na periferia. Uma casa humilde de dois cômodos, um quintal pequeno, lugar simples porém aconchegante.
O gari está meio cansado nesta tarde e quer terminar logo seu turno pra chegar em casa beijar sua mulher e curtir o filho.
Ele pára, olha o chão, tem muito lixo pra recolher.
As pessoas esquecem os lugares certos de se jogar o lixo, elas pensam tanto nos problemas, nas casas que tem que comprar, nos carros, nos celulares novos da vitrine, nas roupas das loja, fumam enquanto assistem o brilho da luz fluorescente queimar o sapato de griffe, são cães apreciando o frango no forno da padaria, nada contra os cães claro, trabalham mês a mês aguentando seus chefes, que aguentam seus chefes e descontam nos empregados, que sonham em comprar um cd da banda preferida num camelô e perde após uma semana que logo estão fora de moda, nisso ficam cegos e não enxergam cestos coloridos espalhados pela cidade. É lógico que por causa dessas pessoas cegas, e um pouco por parte da natureza que deixam suas folhas caírem no chão, ele garante seu sustento. Num instante o lixo se move enquanto ele junta os montes com bitucas, papéis de bala, capa velha de celulares, folhas secas, partes de peças de carro, papelão, papéis, panfletos, pedaços de comida, garrafas vazias, cacos de vidro e outros fragmentos de consumo humano.
O lixo de repente faz um movimento brusco como se fosse o vento, mas numa tarde como essa que não venta ele estranha e fica meio incomodado e se irrita com facilidade quando o vento leva a poeira, o lixo que ele tenta varrer, é comum nos irritarmos com situações simples no trabalho, já que são do trabalho e que dão trabalho, a facilidade é um luxo. Ele olha e num instante o lixo começa a se movimentar, ele não entende, olha para os lados pra ver se alguem viu a situação inusitada, o lixo se moventa formando um pequeno redemoinho e cresce assustadoramente, o gari fica paralizado sem saber se corre ou varre o lixo pra dentro do saco, cumprindo assim seu dever. O lixo forma uma boca. Ele hesita levanta o cabo da vassoura como se fosse atacar, mas fica ali, vendo o fenômeno antes visto em cenas de filmes de terror. O lixo vai pra cima do gari, as pessoas passam, não olham, estão apressadas pra ir para suas casas descansar do trabalho, ou pra faculdade, pro cinema e não prestam atenção no que acontece, imaginam que seja mais um maluco fazendo seus malabarismos, ou seus truques com marionetes. O lixo fica maior do que o gari, e num leve gesto vai em direção a ele, e se abre vai comê-lo como se fosse vingar as varridas, a sombra cobre seu rosto e assim o lixo o engole, a vassoura cai no chão, e da mesma forma, um redemoinho contrário e se desfaz no chão, sua missão foi cumprida.
Os carros passam, os prédios no mesmo lugar os ambulantes já se foram em silêncio, as moças atendem, os jovens já se foram, juntaram mais amigos na lanchonete, a cidade segue em seu fluxo contínuo, e as pombas olham.
Extraído do Blog Rotina Agressiva de Alexandre Resende

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

COMLURB DO RJ ABRIRÁ CONCURSO PARA GARI

Comlurb do Rio de Janeiro abrirá concurso para 1,4 mil vagas de gari.
A inscrição será de R$ 10,00 e o período de inscrições será de 10 dias. Cargo exigirá pelo menos a 4ª série do nível fundamental.
A Companhia de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro (Comlurb) informou que irá lançar concurso público para 1,4 mil vagas de garis.
O cargo exigirá que o candidato tenha pelo menos a 4ª série do ensino fundamental. O salário inicial é de R$ 486,00, mais R$ 225,00 de vale-refeição, auxílio-creche de R$ 185,00, plano de saúde e adicional de insalubridade de 40%.
O edital deverá ser lançado, segundo a assessoria de imprensa do departamento de limpeza urbana, depois do dia 10 de setembro.
A inscrição será de R$ 10,00 e o período de inscrições será de 10 dias. Atualmente a Comlurb tem 12.594 funcionários nessa função.

domingo, 23 de agosto de 2009

COMO SEDUZIR UMA MULHER...

MESTRE JAJÁ, GARI E COMPOSITOR

Gari e compositor, Mestre Jabá é conhecido na Liberdade por cantar ao varrer as ruas.
"Muito prazer. Mestre Jabá, Compositor-Gari da Liberdade". É assim que Serafim Antônio dos Santos, 42, instrutor de capoeira e gari no bairro da Liberdade, região central de São Paulo, se apresenta ao receber a reportagem. Sorridente e extremamente falante, ele é famoso na região por varrer as ruas sempre cantando e dançando.
"Eu canto na rua, canto varrendo, canto nos bares. Eu não tenho vergonha mais", diz Jabá, como é conhecido na região. Diferentemente de Renato Sorriso, gari carioca famoso nos carnavais do Rio, o gari-sorridente de São Paulo gosta de forró.
"Eu também gosto de samba, mas minha paixão é o forró, daqueles do tipo 'rastapé'", diz. Mesmo assim, vez ou outra compõe um samba, como o "Enredo de Carnaval dos Garis", a quem espera representar como vereador um dia.
O carinho pelo ritmo veio da infância na Bahia, de onde Jabá saiu aos 16 anos para conquistar a cidade de São Paulo. Desde então, trabalha como instrutor de capoeira para crianças carentes e, há dois anos, se esforça para deixar as ruas da Liberdade mais limpas e alegres.
Apesar de ser fã do cantor e instrumentista Dominguinhos, o gari-cantor não costuma cantar canções de outros músicos. "Eu gosto de fazer as minhas próprias músicas", diz.
Cada música, diz ele, é inspirada em algum fato relevante que esteja acontecendo. "Eu fiz uma música sobre o Japão, por causa da Liberdade, sobre a lei seca, sobre o que eu escuto eu faço música", afirma.
Como não sabe ler ou escrever, Jabá memoriza as letras e melodias das músicas que compõe. A auxiliar de limpeza e sua "segunda voz" nas apresentações em bares, Judite Ferreira de Souza, que não revelou a idade, confirma: "ele nunca confunde as músicas".
"Eu não sei ler nem escrever, mas minha cabeça é igual a um computador", brinca.
Outro instrumento que o ajuda a memorizar as músicas é o velho gravador que carrega por onde vai. Além das músicas, Jabá grava as entrevistas que concede. Logo no início da reportagem, ele sacou o gravador e pediu: "posso gravar?".
Segundo ele, as fitas são recordações de sua vida. Para provar, troca de fita e bota para tocar um trecho do show de Dominguinhos que assistiu em São Paulo.
Enquanto a fama não vêm - Jabá espera gravar um CD seu para divulgar "pelos programas de televisão" - o "Compositor-Gari da Liberdade" se apresenta diariamente nas ruas da liberdade, das 14h às 22h, para quem quiser ouvir. "Até hoje só ganhei um real cantando. Mas não quero ganhar dinheiro, eu quero é cantar pra todo mundo ouvir."
Extraído da Folha Online de 24/01/2009 - Por Marina Novaes

sábado, 22 de agosto de 2009

GARI É ELEITO VEREADOR EM ABATIÁ/PR




Marcelo Aparecido Botelho foi eleito pelo PDT com 272 votos em Abatiá. Só que prossegue trabalhando como gari. Sempre sorridente, foi até pauta de matéria em rede estadual de televisão. Ele ganha, como vereador, R$ 1.270,00, quase três vezes mais do que como gari. É autor, até agora, de 13 requerimentos e nenhum projeto e afirma que continuará no serviço braçal, "Que é digno como outro qualquer", ressalta. A família, toda oriunda da roça, está orgulhosa. Ele tem 27 anos, solteiro e é a primeira vez que atua na política.
Extraído do Portal RPC - Paraná TV

GARI É ELEITO VEREADOR EM GOIÂNIA
Gari que ganha R$ 415 e vive em barraco com família é eleito vereador em Goiânia
"Por protesto ou admiração, vote no Negão". O slogan do folclórico candidato Negro Jobs, apelido do gari José Batista da Silva, de 49 anos, deu certo. Depois de disputar sem êxito outras três eleições, ele conseguiu se eleger vereador da capital goiana com 3.089 votos.
Candidato pelo PSL, Negro Jobs é natural de Mata Verde/MG, mora com a mãe, uma filha e três netas em um barraco na periferia de Goiânia.
- Agora vou poder realizar o sonho de dar uma casinha melhor para minha mãe - comemora.
É que o salário passará de R$ 415 para R$ 10 mil, sem contar 15 cargos comissionados, carro e telefone corporativo a que terá direito como vereador. Ele também acredita que ficará mais fácil quitar o empréstimo de R$ 4 mil, consignado em folha, que fez para bancar a campanha. Negro Jobs passou dias assediado pelos vizinhos e pela imprensa e não se intimida ao falar de seus projetos.
Sorridente, o vereador conta que fez campanha usando o uniforme de trabalho, dirigindo uma Brasília amarela ano 1975 devidamente ornamentada com lixo reciclável e sem apoio financeiro.
- Em momento nenhum meu partido acreditava na minha vitória. Os políticos brasileiros só acreditam nos figurões - reclama.
O caminho até a vitória nas urnas não foi nada fácil. O desejo de ser político começou em 1986, quando Jobs se sustentava com um carrinho de vender sanduíches, e certo dia foi impedido de trabalhar por fiscais da Prefeitura.
Ressalta, porém, que o poder não mudará seu estilo simples. A diferença no tratamento, contudo, ele já percebe. O celular "pai de santo" - que só recebe ligações - não pára de tocar.
Especial para O GLOBO - Por Isonilda Souza

VASSOURAS ECOLÓGICAS

A Urbam está substituindo as vassouras de piaçava usadas na varrição de ruas por vassouras produzidas a partir de material reciclado.
As novas vassouras são produzidas a partir de garrafas pet desfiadas e o maior diferencial é que duram bem mais que as tradicionais. A durabilidade chega a dois meses, enquanto as vassouras de piaçava duram uma semana.
Inicialmente, foram adquiridas 50 unidades, que foram testadas e aprovadas pela equipe de 400 profissionais que atuam na varrição. Com a aprovação pelos agentes ambientais, foram adquiridas mais 500 unidades. A troca dos produtos é feita gradativamente.
O custo da vassoura reciclada é compensado pela durabilidade e pelo diferencial. Com cabos feitos de madeira de reflorestamento, base de produtos reciclados, e cerdas de fibras de garrafas pet, as vassouras são mais leves que as demais. Foram adaptadas de acordo com a necessidade da varrição, levando-se em consideração aspectos como: peso, inclinação e espessura das cerdas.
A vassoura ecologicamente correta foi criada por uma empresa da cidade, que detém essa tecnologia. O conceito das vassouras ecológicas pressupõe a preservação do meio ambiente em todas as suas etapas e todos os agentes envolvidos neste processo tem um papel importante. Como destaca José Luiz Silva de Castro, encarregado de produção da fábrica que produz as vassouras, é importante que as donas de casa e a população em geral realizem a separação correta do lixo, e retirem os excessos de alimentos dos recicláveis, evitando que cheguem contaminados ao destino final.
A adoção deste tipo de produto na operação da Urbam, vem se somar aos princípios da empresa, cuja atuação é eminentemente ambiental, ao cuidar da limpeza urbana e da qualidade de vida em São José dos Campos. A Urbam tem ampliado as campanhas de conscientização para a reciclagem do lixo e valoriza os produtos feitos a partir de materiais reciclados. Em todos os departamentos da empresa só são utilizados papéis reciclados.
Clique na foto e conheça a URBAM

AS DIVERGÊNCIAS SOBRE A INSALUBRIDADE

Um ano após decisão do Supremo, juízes divergem sobre insalubridade.
Juízes dos tribunais trabalhistas afirmam que enfrentam há cerca de um ano uma situação de "insegurança jurídica" na análise e tramitação de processos judiciais sobre a base de cálculo do adicional de insalubridade.
Isso porque, em maio do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu liminarmente (provisoriamente) uma súmula do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que definia a base de cálculo a ser adotada para o benefício. Apesar disso, não estipulou qual critério deveria ser adotado.
Desde então, os magistrados analisam os casos conforme o próprio entendimento e esperam pela decisão final do STF ou por uma medida provisória do governo para estipular as regras do benefício.
A assessoria de imprensa do STF informou que não há previsão sobre quando a análise do mérito irá a julgamento.
O Ministério do Trabalho, órgão do governo que poderia preparar a medida provisória sobre o tema, foi procurado, mas ainda não deu resposta. E em meio à indefinição, os juízes de primeira instância acabam ficando sem diretriz para seguir e acabam adotando critérios diferentes de base de cálculo: percentual sobre o salário mínimo, sobre o piso da categoria, sobre o salário-base ou sobre a remuneração total.
Presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra), Luciano Athayde Chaves, disse que a indefinição prejudica os tribunais trabalhistas. "Há uma grande insegurança jurídica em relação a essa matéria. Hoje, o juiz não tem um referencial."
Segundo ele, a entidade espera por uma ação do governo, com uma medida provisória, mas acompanha as decisões do STF sobre o assunto antes de tomar uma atitude jurídica em relação ao tema. "A Anamatra está disposta a avaliar um pedido direto, expresso, genérico, para que a matéria seja examinada com o retorno do recesso forense [férias de meio de ano]." Chaves disse que a entidade não tomou atitude jurídica sobre o assunto porque está analisando como o STF se posiciona sobre os processos do tema que chegam ao tribunal. "A associação, perante as instituições supremas, tem de ter cautela. Estamos analisando essa situação, estamos conectados com o problema."
Entenda a polêmica sobre a base de cálculo do adicional de insalubridade:
1943 - A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) é criada por decreto em 1º de maio. O artigo 192 diz que o adicional de insalubridade deve ser calculado com base no salário mínimo regional.
1985 - O Tribunal Superior do Trabalho edita a súmula 228, segundo a qual a base de cálculo do adicional de insalubridade é o salário mínimo (com exceção dos casos previstos em acordo coletivo).
1988 - Constituição Federal é promulgada em outubro. O artigo 7º, item 4, diz que nenhum benefício pode ser vinculado ao salário mínimo. O item 23 prevê adicional de remuneração para atividades insalubres, mas não especifica qual deve ser a base de cálculo.
Maio de 2008 - Após julgar ação sobre adicional de insalubridade, o Supremo Tribunal Federal (STF) decide que o salário mínimo não pode ser usado como base de cálculo por ferir a Constituição. O Supremo edita a súmula vinculante 4, que diz que o salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo para servidores públicos ou empregados do setor privado. A súmula acrescenta ainda que a base de cálculo não pode ser definida por decisão judicial.
Junho de 2008 - Por conta da súmula do STF, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) altera a redação da súmula 228, de 1985, para que o salário-base seja adotado como base de cálculo para o adicional de insalubridade. O entendimento levou em consideração o artigo 193 da CLT, que diz que o adicional de periculosidade deve ser pago sobre o salário-base, isto é, sem gratificações, prêmios, ou outros adicionais, como o noturno.
Julho de 2008 - A Confederação Nacional da Indústria (CNI) entra com ação no STF questionando a súmula do TST, uma vez que o Supremo decidiu na súmula 4 que o cálculo não poderia decorrer de decisão judicial. O ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo, suspende, liminarmente, a súmula do TST. O caso foi encaminhado para a ministra Carmem Lúcia. A partir dessa medida, cada juiz passa a tomar decisões de acordo com o próprio entendimento.
Janeiro de 2009 - O TST retoma o entendimento de que, até que seja editada lei sobre o adicional de insalubridade, a base de cálculo deve ser o salário mínimo.
Fevereiro de 2009 - O ministro do STF Cezar Peluso questiona a determinação do TST de manter o mínimo como base de cálculo em razão da súmula vinculante 4. Suspende a decisão do TST até julgamento final da reclamação.
Julho de 2009 - Segundo o STF, dois processos analisam a súmula do TST, o que está com Carmem Lúcia e o que está com Cezar Peluso. Em nenhum dos casos há previsão de julgamento.
Fonte: CLT, Constituição Federal, TST e S

Algumas perguntas e respostas sobre insalubridade:
O que é insalubridade?
Segundo a CLT, é considerada atividade insalubre aquela em que o trabalhador é exposto a agentes nocivos à saúde acima dos limites tolerados pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
Como é determinada se a atividade é insalubre?
A Norma Regulamentadora 15, do Ministério do Trabalho, é que define o que é atividade insalubre. Há grau mínimo, médio e máximo.
Clique aqui para ver a norma e saber em qual grau cada atividade é enquadrada.
Qual a diferença entre insalubridade e periculosidade?
É considerada atividade perigosa aquela em que o trabalhador não está diretamente exposto a agentes nocivos, mas corre risco de sofrer ferimentos ou de morrer. Nesse caso, o adicional é calculado sobre 30% do salário-base. Os adicionais de periculosidade e de insalubridade não são cumulativos: ou o trabalhador recebe um ou recebe outro.
Como é calculado o adicional de insalubridade?
O trabalhador que atua com atividade insalubre no grau mínimo recebe 10% de adicional de insalubridade. Quem atua com grau médio, recebe o percentual de 20%. No grau máximo, o percentual é de 40%.
Qual a base de cálculo para o benefício?
A definição da base de cálculo é polêmica. Há diferentes decisões judiciais, que determinam o cálculo sobre o salário mínimo, sobre o salário base do trabalhador, sobre o piso da categoria ou sobre a remuneração total do empregado.
Quem nunca recebeu e julga que tem o direito ou quem considera equivocada a base de cálculo utilizada pode questionar na Justiça?
Sim. Nesse caso, a ação só tem efeito retroativo de cinco anos e só pode ser protocolada até dois anos depois do desligamento do empregado na empresa.
Fonte: Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e Ministério do Trabalho

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

PROFESSOR DE DIADEMA TRABALHOU COMO GARI PARA PAGAR A FACULDADE

Quem vê o professor João Ailton Santos, 29 anos, lecionar língua portuguesa na escola estadual Professor José Fernando Abbud, em Diadema, nem imagina o quanto ele batalhou para chegar lá. Nasceu em família pobre, tem pais analfabetos, sofreu o preconceito por ser negro, e nunca teve dinheiro para estudar. Nada disso, porém, foi obstáculo para que realizasse seu grande sonho: se formar em Letras. Mesmo que para isso precisasse trabalhar como gari e varrer as ruas de Diadema, cidade onde mora há dez anos.
E foi o que Santos fez por um ano e três meses, logo que passou no vestibular na faculdade UniABC, no ano de 2000, e se viu sem dinheiro para pagar as mensalidades.
"Passei em frente à uma empresa e vi que estavam contratando garis. Não tive dúvidas. Entrei e me candidatei", diz. A determinação e a coragem para realizar seus sonhos, Santos acredita que tenha aprendido com a experiência desta época. "Não era um trabalho fácil.
No início eu ficava constrangido, porque me sentia invisível. As pessoas esbarram em você e não te pedem desculpas, outras jogam papéis no chão na sua frente. Era como se eu não existisse." Na faculdade, o universitário que varria a rua Sete de Setembro, no Centro de Diadema, também sentia o preconceito dos colegas de classe.
Apesar das dificuldades, nada o abalava. Por nenhum momento pensou em desistir. Tinha o apoio contínuo dos pais que o incentivavam na carreira de professor. Na adolescência, lia as obras de Machado de Assis e Franz Kafka, e esforçava-se para retribuir o amor da família. "Eles se dedicaram e fizeram muito por mim, por isso me sentia obrigado a fazer sempre mais." SALA DE AULAO então gari só substituiu as vassouras pelos gizes, nas salas de aulas, quando conseguiu um estágio na escola Salvador Moya, em São Paulo, onde ficou até se formar. Em 2004, foi aprovado no concurso público do Estado e passou a compor o corpo docente da escola José Fernando Abbud. Neste ano, outra vitória marcou sua vida: foi um dos 15 selecionados entre 1.000 inscritos, em um concurso realizado pela Prefeitura de Diadema cujo o prêmio era uma viagem de 45 dias pela França. Mesmo depois de quatro anos, ele vibra ao contar a experiência de conhecer Paris."Às vezes até sonho com isso", ri.
Formado, casado com a vendedora Selma Ferreira Gomes, 35 anos, e pai de André Ferreira, 3, hoje Santos se diz um homem completo e orgulhoso de suas conquistas. O prazer em lecionar é latente. "Fico feliz quando vejo os alunos aprendendo. Tenho um carinho especial por eles. Há classes que nos motivam." O passado sofrido do garoto o tornou um professor carismático, querido pelos alunos. "Muitos são meus amigos e tenho prazer em ensiná-los para que um dia eles tenham uma boa profissão."
Daqui para frente, os planos do ex-gari incluem um mestrado e aulas em universidades.
Extraído do Diário do Grande ABC de 12/05/2008 - Por Vanessa Fajardo

GARI POETA LANÇA LIVRO E REALIZA UM SONHO

A rotina de Marcelo Vieira é dura como a de muitos trabalhadores que têm a função de manter a cidade limpa. Há quatro anos ele trabalha como gari nas ruas próximas ao ponto azul em Ponta Grossa. Nada disso o impediu de realizar seu sonho. Nos horários de intervalo, Marcelo costuma escrever poesias sobre o universo que ele enxerga. Desses momentos de inspiração surgiu o livro de poemas “Minhas poesias. Um sonho realizado”, que será lançado no dia 31 de Maio.A ideia de lançar o livro surgiu em um evento da classe. “O Marcelo declamou umas poesias nas comemorações do dia do Gari [16/05], em 2008. Vimos um talento nato nele e resolvemos investir”, diz Maria Donizete Alves, presidente do Sindicato dos Empregados em Empresas de Asseio e Conservação (Siemaco) de Ponta Grossa, entidade que financia a obra. O gari-poeta tinha 15 versos na época. Hoje, tem 130 poesias escritas.O poeta, que estudou até a quinta série, conta o que leva ele a escrever tantos poemas. “Minha fonte de inspiração é o universo que eu enxergo enquanto trabalho”, diz Marcelo. Ele relaciona suas duas funções: “Tanto os garis como os poetas tem que lidar com a insensibilidade das pessoas, que não lhe entendem e ainda poluem o mundo”. Seus versos falam das mais variadas temáticas, como família, religião e humor, através da visão de quem enxerga o mundo das próprias ruas.O lançamento surpreendeu garis e escritores da cidade. “Esse livro é sinal que a gente busca por evolução, seja financeiramente como culturalmente”, diz Maria Frurstenberger, que trabalha há seis anos como gari. Para Josué Corrêa Fernandes, membro da Academia de Letras dos Campos Gerais, Marcelo é um guerreiro. “Em uma cidade que maltrata o artista como a nossa, muitos valores se perdem pela falta de incentivo dos órgãos públicos. Ele é peitudo e conseguiu vencer”, diz Fernandes.Marcelo diz que o caso dele é inédito na cidade. “Eu pesquisei e sei que aqui em Ponta Grossa é a primeira vez que um gari se destaca no meio artístico”, fala o gari-poeta, que se orgulha desse título e já planeja um segundo livro de poesias. Donizete fala de casos similares no país. “Em São Paulo há uma banda de rock de garis e no Rio tem o Renato Sorriso, que samba no carnaval, mas isso realmente é algo raro”, diz Donizete.O lançamento do dia 31 acontecerá no salão paroquial da igreja de Uvaranas. A tiragem do livro será de mil cópias e por ser um lançamento independente, será comercializado pelo próprio autor e pela Siemaco. Mais do que lançar um livro, o autor diz que fecha um ciclo. “Tenho uma filha de 18 anos e já trabalhei plantando árvores aqui em Ponta Grossa. Só faltava um livro mesmo”, fala Marcelo, um homem humilde que plantou uma árvore, escreveu um livro e teve um filho.
Extraído do Blog: Histórias e Rankings - Por Yoshi

HISTÓRIAS DE UM GARI

Ninguém daria nada por aquele homem. Na verdade, as tantas pessoas que transitavam em frente aos pavilhões do Rio Centro nem reparavam nos que cumprem um papel essencial no Pan. De longe se avistava uma figura que empurrava um carrinho de lixo. Por trás do uniforme laranja da COMLURB (Companhia de Limpeza Urbana - RJ), um par de olhos atentos registra todos os movimentos dos Jogos. Crítico e de opinião aguçada, o gari Ricardo Sarmento, 32 anos, morador do bairro Oswaldo Cruz, na capital carioca, cativa também pela receptividade e pela comunicatividade.
São 800 pessoas trabalhando na limpeza do Pan Rio, 75 apenas no complexo esportivo do Rio Centro. Ricardo, em um misto de seriedade e compenetração, explica que muitos receberam treinamento específico para trabalhar no evento, inclusive com aulas de inglês e espanhol. Uma das orientações importantes repassadas foi a de estar sempre atento a qualquer lixo ou material suspeito. Quando encontrado, devem chamar a polícia no mesmo momento.
Trabalhar no Pan-americano tem um gostinho especial para Ricardo. Judoca desde os 18 anos, campeão carioca infantil e juvenil, professor e árbitro de judô, ele vê no evento a possibilidade de estar sempre em contato com o esporte, pois presencia tudo que ocorre nos Jogos, além de assistir a algumas lutas de judô nos momentos livres. Contando sua história de vida, nem parecia que ali estava um gari. Entre tantos, se destacava.
Se por um lado o gari se encanta pela beleza do Pan, por outro critica alguns pontos, que considera falhos no evento. Um dos pontos que destacou foi sensação de discriminação que os garis sentem. Segundo Ricardo, eles são obrigados a passar por revista, sendo que as demais pessoas que também trabalham nos Jogos não precisam. Com indignação estampada no semblante, definiu: a impressão que se tem é que as pessoas não confiam neles por serem garis. Com isso, a relação entre a segurança e a limpeza fica desgastada e estressante, completa.
Quanto mais falava, mas assumia propriedade de quem sabe o que está dizendo. Com segurança, apontou ainda outro aspecto negativo da organização do Pan e também da prefeitura: o não fornecimento de alimentação para os garis. "A gente trabalha doze horas por dia, sem receber adicional e ainda temos que trazer a comida de casa, que fica fria porque nem tem onde esquentar", reclama. No caso dele, prefere pagar para comer e ainda há a dificuldade por não ter muitos lugares próximos ao Rio Centro.
Além de suas opiniões e crítica, Ricardo Sarmento também é bastante atento à tudo que ocorre no evento. O trabalho de limpeza permite-lhe observar as pessoas e os acontecimentos sem que ninguém repare. Ele conta que há muitos cambistas vendendo ingressos e que eles sabem agir muito bem para não serem pegos pela segurança. "Daqui eu vejo um cinco ou seis cambistas ali na entrada", afirma com certeza colocando em prática o olhar aguçado.
Ricardo, além de gari, judoca, observador e crítico, é também torcedor. Como não poderia deixar de ser, adora a festa dos Jogos Pan-americanos, o clima de competições e diversão. Nesse momento o semblante de homem sério se desfaz. Um largo sorriso aparece no rosto. E já vai logo dizendo, como todo bom brasileiro: "estou torcendo para o Brasil. Não importa quem e qual modalidade. O que ganhar está valendo".
Extraído do ClickPan 2007 - Por Gabriela Canseco, em 21/07/2007

GARI APRENDE POR CONTA PRÓPRIA A FALAR FLUENTEMENTE O INGLÊS

Jornal destaca gari conquistense que fala inglês fluentemente.
Não têm sido raras histórias de garis que saem do anonimato social para ganhar notoriedade por atitudes diversas, como devolver documentos ou quantias perdidas, resgatar recém-nascidos jogados em lixeiras ou malabarismo com baldes e vassouras, mas a de Rodrigo Lima de Oliveira, 30 anos, foge do convencional.
Um dos 125 garis lotados no Serviço de Limpeza Pública de Vitória da Conquista, município do sudoeste baiano, a 509 km de Salvador, Oliveira deixou de lado o que considera "humilhação social" e mergulhou firme no aprendizado da língua inglesa.
A curiosidade pelo idioma fez com que o rapaz buscasse ajuda em bibliotecas, escolas e em falantes do inglês. Com determinação, concluiu o ensino médio fundamental e logo adquiriu um método que possibilitou que ele se comunicasse fluentemente na língua inglesa.
Sobrevivência - Nascido em São Paulo, Oliveira aportou em Conquista há 18 anos por força do destino e está no serviço público há oito. "Não tive opção. Fui ser gari por uma questão de sobrevivência, mas quero prestar vestibular para nutrição".
Enquanto isso não acontece, nas horas vagas, exatamente como faz há mais de dez anos, procura o prazer da leitura em espaços públicos. "Sempre tive curiosidade pelo idioma e paixão pela leitura, então eu frequentava a biblioteca pública para me aperfeiçoar. Lá encontrei uma coleção chamada Inglês em Casa e comecei a estudar sozinho", diz.
O professor de inglês Rui Albuquerque, considerado o mais experiente e preparado docente do idioma na região sudoeste, disse ter ficado surpreso com o nível de conhecimento do rapaz. "Foi surpreendente quando o conheci, numa humilde casa no bairro Kadija", recorda. "Ele estudava por conta própria, não tinha material e corria à procura de informações com os mórmons. Ele entende bem, tem boa pronúncia e se faz entender com facilidade. Classifico em cinco o seu nível".
Para se ter idéia da classificação, entre básico, intermediário e avançado, o gari estaria no terceiro estágio. "Seguramente ele poderia se virar muito bem em qualquer país falante de língua inglesa", garante Albuquerque, que, quando foi diretor de uma escola de idiomas, convidou o gari a acompanhar aulas, em dois períodos, como ouvinte. "Ele conseguiu se sair melhor que os alunos", lembra.
"A última vez que o vi foi na rua, com a vassoura. Começamos a conversar em inglês, próximo a um ponto de ônibus e o silêncio entre os ouvintes foi geral. Todos ficaram espantados pela maneira inusitada com que Rodrigo se expressava ", disse.
Extraído do Jornal A TARDE de 02/02/2009 - Reportagem: Juscelino Souza - Imagem: José Silva

PROFISSÃO GARI

Outro dia, durante um diálogo com o jovem Pedro Henrique, de 4 anos, notei algo que talvez possa passar imperceptível aos olhos de alguns, assim como passava pelos meus. Perguntei o que ele sonhava em ser quando crescesse, e a resposta foi piloto de Fórmula 1. Então comecei a perguntar para outras crianças e notei que nenhum tem o desejo de seguir a profissão de gari.
Apesar do trabalho de um gari não ser tão reconhecido por todos, não podemos deixar de considerá-lo importante. O serviço dos garis é justamente fazer o que muitos não querem, que é preservar o meio ambiente. E é deste modo que eles conseguem o próprio sustento e têm conscientização dessa importância.A profissão de gari ainda é muito ignorada, no entanto são justamente eles que, além de manter a cidade limpa, fazem do próprio trabalho uma atividade indispensável aos habitantes das grandes cidades.
“O que me faz trabalhar como gari é a necessidade, porque emprego está difícil, mas somos discriminados, pois as pessoas pensam que não sabemos ler, no entanto têm várias pessoas aqui que estão formadas”, disse Gilmar Pereira dos Santos, 33 anos, gari há oito anos. Para Gilmar dos Santos, que já trabalhou antes como agricultor e de ajudante de pedreiro, o dia-a-dia de um gari é muito variável. Os moradores cobram muito, e os garis não são bem-remunerados na profissão. “Eles pagam em dia, mas existe uma outra empresa que os trabalhadores são bem mais remunerados”.
A limpeza das ruas é dividida em três setores: capina, coleta e varrição. O outro gari Bartolomeu Rodrigues já trabalhou durante dois anos na coleta, que é limpar caixas de lixo. “Eu tinha que retirar todo o lixo que ficava dentro da caixa e aproveitava e já fazia a separação dos materiais recicláveis”.
Estes dois garis são funcionários da Companhia de Urbanização de Goiânia - Comurg; trabalham oito horas por dia, sendo que, enquanto um varre, o outro colhe o lixo produzido pela equipe que faz a varrição das ruas, “carrinha”, assim denominada por eles.
Para eles, existem épocas do ano em que o serviço é mais puxado. “Geralmente trabalhamos mais em datas comemorativas, final de ano e no período eleitoral, pois temos que cuidar antes de começar tudo, e depois, também, para manter tudo limpo”, explicou Gilmar. Para os profissionais, tem algo na área que os agrada muito, que é ter o contato com os moradores e a amizade que surge. “O melhor de tudo é a amizade, pois passamos mais tempo aqui do que com a nossa família; então fazemos parte da comunidade”, concluiu Bartolomeu. E, em relação ao meio ambiente, a intenção é a melhor possível.
“Nós fazemos a preservação e a recuperação do meio ambiente. O caminhão passa recolhendo o lixo três vezes por semana e despeja no aterro sanitário de Goiânia. Mas a humanidade deve se conscientizar mais, pois já fazemos a nossa parte”. Para se tornar um trabalhador na profissão de gari, tem que se fazer concurso público.
Durante a administração de Iris Rezende (2005 a 2008), atuei na Comurg. Foi quando descobri como são inúmeras as dificuldades dos trabalhadores dessa companhia, e que o lixo pode ser uma excelente alternativa para incrementar a economia, promover a emancipação social, melhorando a renda e a qualidade de vida de muitos; e que lidar com o lixo de forma responsável e estratégica também vai proteger o meio ambiente e garantir um futuro melhor para todos.
Então vai aí nossa homenagem...
Se os garis fossem políticos, provavelmente o lixo seria varrido do cenário político nacional.
Caberia então ao gari varrer as ruas, cidades, prefeituras, palácios, Assembléias, Câmaras e o Congresso dos dejetos que deveriam representar o povo.
Varrer com a vassoura do voto!
Varrer com a vassoura da honestidade!
Varrer com a vassoura da consciência ambiental...
Parabéns aos quase 5000 guerreiros e guerreiras que acordam todos os dias às 4 horas para cuidar da limpeza de nossa cidade...
Extraído do DIÁRIO DA MANHÃ ON-LINE Goiânia/GO - Por: Paulo Arantes - Coordenador de Finanças da Juventude do PT/GO.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

SUGESTÃO:- HOMENS INVISÍVEIS: Relatos de uma Humilhação Social

Essa é a história sobre um psicólogo que passou oito anos trabalhando como gari para estudar sobre “invisibilidade pública”, uma percepção humana condicionada à divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa. Em 1994, Fernando Braga da Costa era estudante de psicologia na USP quando uma tarefa da disciplina Psicologia Social II exigiu que exercesse, por um dia e ao lado de trabalhadores reais, uma “profissão subalterna e não-qualificada”. Ele escolheu trabalhar ao lado dos garis da própria universidade mas, ao contrário de seus colegas, decidiu levar adiante a experiência. O trabalho começou de forma esporádica mas, aos poucos, foi se tornando mais freqüente. Após alguns meses, pelo menos uma vez por semana Fernando vestia o uniforme e trabalhava como gari. Fernando constatou que a maioria das pessoas não vê os garis, ou melhor, vê mas ignora. Por diversas vezes, pessoas conhecidas, alunos ou professores, passaram por ele, que parava de varrer, e simplesmente não o viram.
TRECHO DO LIVRO:
"Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão.
[...]uma certa vez, quando estava trabalhando como gari, tive que passar pelo Instituto de Psicologia da USP – passei pelo térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, pela biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, em frente à lanchonete, e tinha muita gente conhecida. O pessoal passava como se estivesse passando por um poste, uma árvore, um orelhão. Eu fiz todo esse trajeto e ninguém, em absoluto, me viu ou olhou para mim. Eu tive uma sensação muito ruim. O meu corpo tremia como se eu não o dominasse. Fui almoçar e voltei para o trabalho atordoado. Foi naquele momento que senti na pele a coisa da invisibilidade social."
LIVRO: Homens Invisíveis: Relatos de uma Humilhação Social - Fernando Braga da Costa - Editora Globo

terça-feira, 18 de agosto de 2009

COMO SURGIRAM OS APELIDOS GARI E MARGARIDA

A maioria dos brasileiros - e até mesmos muitos dos que trabalham no setor - desconhecem como eles foram incorporados ao dia-a-dia pela população. Mas essa dúvida termina quando é preciso identificar um coletor, que remove o lixo, ou uma varredora, que limpa as ruas. Aí é só chamar o gari ou a margarida e tudo se resolve. A palavra gari vem do nome de Pedro Aleixo Gary que, durante o Império, assinou com a Corte brasileira o primeiro contrato de limpeza urbana no Brasil. Aleixo costumava reunir no Rio de Janeiro, cidade onde morava, funcionários para limpar as ruas após a passagem de cavalos, o que nessa época era muito comum.Os cariocas se acostumaram com esse trabalho e sempre mandavam chamar a "turma do Gari" para executá-lo. Aos poucos e de tanto repeti-lo, a população da cidade associou o sobrenome de Aleixo Gari aos funcionários que cuidam da limpeza das ruas. Assim, o nome gari se espalhou para o restante do País. Em homenagem a ele a Comlurb mantém em Campo Grande, no Rio de Janeiro, uma fábrica de utensílio para limpeza urbana que leva o nome de fábrica Aleixo Gari.
MARGARIDA
No início da década de 70, havia carência de mão-de-obra masculina em São Paulo para serviços de varrição, já que os melhores profissionais eram requisitados pelas empresas responsáveis pela construção do metrô. Naquela época, o então gerente da filial Piracicaba, José Mauro Porto, foi designado pela diretoria de Operações da VEGA para incluir as mulheres no serviço de limpeza pública. A experiência pioneira foi feita com absoluto sucesso e, logo em seguida, repetida em outras regiões, na Capital. Antes mesmo de o teste ser feito em São Paulo, havia uma preocupação em encontrar um nome popular que servisse de alternativa aos já tradicionais, como varredora e servente.
Pensou-se na cor branca, que é sinônimo de limpeza, e na flor, que representa a mulher. Imediatamente, margarida foi considerada o mais adequado, inclusive porque nesse nome está contida a palavra gari. Dias depois, a mídia e a sociedade em geral aceitaram - e elogiaram - o ingresso da mulher na nova atividade profissional junto com seu apelido de trabalho. A VEGA abriu um novo mercado para as mulheres, que desde então se dedicam à atividade com interesse, merecendo o respeito dos pedestres que passaram a ter um motivo a mais para evitar sujar as ruas e manter a cidade limpa.
Obs.:- Somente para nosso entendimento: O nome Gary, lido em francês pronuncia-se garri, oxítona. Daí foi um passo pra virar "GARI", como conhecemos.

MURAL DO GARI