Garis de Blumenau iniciam projeto e trocam vassoura por aspirador
12 equipamentos serão testados nas ruas no município do Vale do Itajaí.
Projeto será implantado em 100% da cidade em junho de 2014.
Os garis de Blumenau, no Vale do Itajaí, vão substituir as tradicionais vassouras por aspiradores a partir da próxima quinta-feira (21). O projeto começou em 2012 e o objetivo, conforme a Prefeitura, é modernizar o trabalho de limpeza e diminuir a dificuldade encontrada com a mão-de obra no município.
De acordo com Emerson Vieira, diretor-presidente da Companhia Urbanizadora de Blumenau (URB), 12 equipamentos foram comprados no valor de R$ 16 mil. Ainda segundo Vieira, a mudança vai começar pelo Centro, que concentra o maior número de pessoas. Porém, até junho de 2014, o projeto deve estar implantado em 100% dos bairros.
Para o diretor da companhia urbanizadora, a ideia foi muito bem aceita na cidade. Segundo ele, espaço ficará limpo mais rapidamente com a nova medida. "Com o aspirador, o trajeto feito normalmente com uma vassoura pode ser percorrido quatro vezes no mesmo com o equipamento", complementou ele.
Suelen Abreu, a Mais Bela Gari da Capital, volta ao batente
Diário Gaúcho acompanhou o primeiro dia de trabalho da gari, que virou celebridade na Zona Sul
Ela se tornou uma celebridade. Ontem, no primeiro dia de trabalho da semana, Suelen Weber Abreu, 21 anos, de vassoura em punho foi saudada por quem reconheceu a vencedora do concurso a Mais Bela Gari de Porto Alegre.
Depois de dois dias curtindo a vitória, ela retomou a rotina de trabalho nas ruas do Bairro Belém Novo. Mas revela que está com a agenda cheia. No domingo, fez um churrasco com a família e os amigos. E perdeu as contas de quantas entrevistas concedeu à imprensa.
- As pessoas vinham com o Diário Gaúcho (ela está na capa da edição de segunda) pra me pedir autógrafo. Todo mundo quer tirar foto - conta a campeã.
Depoimentos nas redes sociais e mensagens no celular chegaram inclusive de desconhecidos. Com tanto carinho, Suelen está radiante:
- Não parei um minuto, está sendo muito bacana.
Trabalho em equipe
Ontem foi o dia de retornar ao convívio dos colegas, que ficaram na torcida. Ela trabalha na equipe que atende o Bairro Belém Novo e seu entorno. Depois de fazer um curso de líder, a vencedora agora faz estágio na área. Quando a coordenadora precisa sair, ela assume.
- É preciso ter responsabilidade para cuidar de uma equipe. Gosto de trabalhar com eles. E aí a gente vira um pouco psicóloga, mãe, amiga - explica.
Apesar da fama, algumas coisas permanecem iguais: a maquiagem e os brincos já faziam parte do visual, bem como a alegria no dia a dia:
- Eu tô sempre brincando, nunca ficamos quietos.
Orgulho das colegas
Quando Suelen pensou em se inscrever no concurso, uma das primeiras a incentivá-la foi a colega Tânia Maria Mello dos Santos, 64 anos. De tanto a turma falar, ela decidiu participar.
- Ela é bonita, jovem, querida. Disse que ganharia. Fiquei faceira - contou Tânia.
A colega e amiga Cristina Gomes dos Santos, 39 anos, acredita que o jeito alegre de Suelen foi um dos fatores que influenciou na conquista.
- Torci o tempo todo. Ela trata todo mundo igual, não deixa ninguém quieto, está sempre de alto astral - revela Cristina.
A coordenadora da equipe em que Suelen trabalha, Olga Maria D'Ávila, 53 anos, também não poupa elogios à Mais Bela Gari de Porto Alegre. Diz que é o seu braço direito no dia a dia:
- Eu acho que ela vai representar muito bem a nossa profissão. Agora é só tocar em frente.
Professora do meio ambiente
Suelen aguarda com ansiedade a data da viagem para Gramado, que está incluída entre os prêmios do concurso. E não vê a hora de poder começar a atuar como uma divulgadora da educação ambiental.
Sua vontade é trabalhar com crianças e ensiná-los, desde cedo, a importância de não jogar lixo no chão e colaborar com o meio ambiente. Afinal, "eles são o futuro".
- Quero poder passar um pouco do meu conhecimento para as pessoas. É possível separar o lixo e até ganhar dinheiro com ele - ensina.
'Chorei de emoção', diz jovem eleita a mais bela gari de Porto Alegre
Suelen Weber Abreu, de 21 anos, venceu concurso no sábado (9).
Domingo (10) é de festa em casa com a família e os amigos.
Eleita a mais bela gari de Porto Alegre em desfile realizado na noite de sábado (9), no Ginásio Tesourinha, Suelen Weber Abreu, de 21 anos, não pensava nem em participar do concurso do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU). Incentivada pelos colegas de trabalho, ela se inscreveu, foi à final, e ficou com a faixa.
Das 118 inscritas, 43 garis foram escolhidas como semifinalistas em cinco etapas seletivas nos últimos meses, com idades entre 18 e 60 anos. Neste domingo (10), Suelen festejava a conquista com amigos e familiares em sua casa, no bairro Belém Novo. "Chorei de emoção!", lembra a jovem em conversa com o G1. "Queria ganhar, mas não esperava o título", completa.
Suelen trabalha na orla do Guaíba, no bairro Belém Novo. Ela conta que os colegas fizeram campanha e conseguiram fazer com que ela se inscrevesse. "Nem imaginava participar. Foi tudo uma boa experiência", diz a vencedora, que tem uma filha de três anos. A pequena também estava no ginásio torcendo. "Foi tudo muito bacana", completa.
O objetivo do concurso, promovido pelo DMLU e pela Secretaria Municipal da Cultura (SMC), é valorizar as mulheres que trabalham no recolhimento de resíduos sólidos e conscientizar a população para a separação correta dos resíduos e seu descarte adequado. Foi a primeira edição do evento.
A rainha ganhou como prêmio um final de semana em Gramado, na Região da Serra do Rio Grande do Sul, o valor de R$ 1 mil, roupas, acessórios e sapato, além de um curso de Modelo Manequim (com contrato de um ano) e uma TV de LED 40 polegadas.
Além de coroa desenhada pela designer Adriana Dubina, em camafeus de cristais swarovski, Suelen irá, ao longo de um ano, participar de eventos colaborativos e culturais promovidos pela SMC, ações de sensibilização para coibir focos de lixo, ajudar nas ações de mobilização interna e externa, além de representar o DMLU no Carnaval de Porto Alegre 2014.
O evento começa às 17h. A entrada é franca e o público é convidado a doar um brinquedo para o Natal
Na tarde deste sábado, 36 candidatas ao título de Mais Bela Gari vão desfilar sua simpatia e desenvoltura na final do concurso, no Ginásio Tesourinha. O evento começa às 17h. A entrada é franca e o público é convidado a doar um brinquedo para o Natal.
Foram inscritas 119 mulheres no concurso. Elas participaram das semifinais nas nove seções do DMLU. Entre as finalistas, serão escolhidas a Mais Bela Gari, além de duas princesas, a Gari Revelação, e a Miss Simpatia, que será eleita pelas candidatas.
A primeira colocada irá, ao longo de um ano, participar de eventos promovidos pela secretaria municipal de Cultura, ações de sensibilização para coibir focos de lixo, ajudar nas ações de mobilização interna e externa, além de representar o DMLU no Carnaval de Porto Alegre 2014. A escolha levará em conta não apenas a beleza da candidata, mas também sua atuação na sociedade e seu carisma.
Todas as finalistas receberão prêmios
A vencedora ganhará, além da tradicional coroa, criada pela designer Adriana Dubina, um final de semana em Gramado com acompanhante, R$ 1 mil, roupas, acessórios e sapatos, um curso de Modelo Manequim (com contrato de um ano) e uma tevê de Led 40 polegadas. A primeira e a segunda princesas ganharão R$ 500, acessórios e sapatos.
A quarta colocada e a Miss Simpatia receberão também R$ 500, acessórios e sapatos. Todas as finalistas ganharão uma cesta básica. A melhor torcida receberá um troféu, uma obra criada pelo escultor Ralf Heiming. Além do desfile, haverá a apresentação do grupo show da escola de samba Copacabana.
O concurso é promovido pelo DMLU e pela secretaria da Cultura, coordenado pelo Rei Momo Fábio Verçoza e conta com o apoio do Projeto Vó Chica, da Vila Safira.
Comissão julgadora
- Rodrigo Chies, diretor da divisão de limpeza e coleta do DMLU
- Ana Canal, assessora de gabinete da secretaria da Cultura
- Yoh Alves, Miss Beleza Negra do RGS 2013
- Cris Mazzei, apresentadora do programa informação na TV Ulbra
- Suzana Schuwchow, proprietária da Danna produções
- Bruno Vasconcellos, Mister Rio Grande do Sul 2014
- Marcio Figueira, diretor da TV Restinga
- Vitória Sulczinski, Miss RGS 2013 (entregará a faixa e a coroa à Mais Bela Gari)
Apelidada de Cocô Beach, areia da praia do Costa Azul é repleta de lixo
Em dias de chuvas mais intensas, são retiradas até 20 toneladas de material das areias das praias de Salvador
Garrafas pet, vidro, plástico, pneus e até camisinha usada... O que poderia ser o cenário de um aterro sanitário foi percebido na praia do Costa Azul, ao lado do Jardim de Alah, na manhã de ontem. Segundo os garis que trabalhavam no local, apelidado de Cocô Beach, até mesmo animais mortos foram encontrados na areia da praia.
“Dois porcos, uma galinha e um cachorro. Cheguei aqui às 7h e já vi muita coisa inacreditável”, contou o gari Antônio Meireles, 60 anos. Segundo o diretor de operações da Limpurb, Ronaldo Ferreira, o lixo encontrado nas praias são os mesmos descartados de forma irregular pela população nas ruas e bairros de Salvador.
“O lixo jogado nas ruas e nas encostas é arrastado pelas enxurradas nos dias de chuva, desembocando nos rios e no mar. É preciso que a população tenha mais cuidado no momento de descartar o lixo para evitar esse tipo de situação”, explicou. Ele contou que em dias de chuvas mais intensas são recolhidas até 20 toneladas de lixo nas praias da cidade.
“Já sabemos que toda vez que chove acontece isso, tanto é que mantemos uma equipe de prontidão para atender a esse tipo de situação”, afirmou Ferreira. Ontem, 20 funcionários da Limpurb trabalhavam nas praias do Costa Azul e do Rio Vermelho, onde, no total, oito toneladas de lixo foram recolhidas das areias. “Se não ocorre a operação, o lixo vai todo parar no mar”, ressalta a presidente da Limpurb, Kátia Alves.
Ela acredita que a solução para o problema está na conscientização da população. “A solução é a educação. As pessoas precisam aprender a parar de jogar lixo na rua e serem mais conscientes”, afirmou a estudante de direito, Nara Dourado, 19 anos. Além de poluir as praias, o lixo descartado de forma irregular é um perigo também para a vida animal. A poucos metros do mar e com as ondas fortes provocadas pela ressaca, esse material logo seria arrastado para o oceano.
O biólogo Clarêncio Baracho diz que o lixo é um problema global e interfere tanto na paisagem quanto na vida marinha. “Temos conhecimento de muitos casos de golfinhos, tartarugas e aves que acabam morrendo após ingerir esse material”, ressalta. Além disso, Baracho chama a atenção que o lixo na praia pode atrair outros animais vetores de doenças, como ratos, afetando também os humanos.
O surfista Bruno Balbi, 25 anos, contou que já teve problemas de pele por conta da poluição do mar. “A sujeira é comum nas praias de Salvador, principalmente quando chove. Aqui, no Costa Azul, a situação não é diferente”, disse. Para o biólogo do projeto Tamar, Alexsandro Santos, os plásticos representam um grande problema para a fauna marinha.
“O risco maior é da tartaruga comer o plástico, confundindo com comida. O mesmo pode ocorrer com os mamíferos marinhos, podendo entrar no sistema respiratório deles e causar asfixia”, pontua.
Além disso, ele ressalta que os próprios banhistas podem ser prejudicados: “Uma pessoa pode estar tomando banho e se deparar com o vidro no fundo do mar, causando um acidente”. Segundo informou a Limpurb, a limpeza das praias de Salvador é feita todos os dias.
Entre a vida de gari em Pedras de Fogo e de vereador em Itambé-PE
Gilmar Monteiro, o Índio do Manguzá, exerce a profissão de gari em Pedras de Fogo e também é vereador pelo PCdoB em Itambé
O gari Gilmar Monteiro da Silva (PCdoB), 37 anos, acorda quando o céu ainda está escuro, toma um copo de água, come um pedaço de cuscuz e veste um uniforme amarelo e azul para a labuta. Às 5h30, com os raios de sol ainda tímidos, ele já está em Pedras de Fogo, município do interior da Paraíba, pronto para limpar a sujeira nas ruas deixada por outros. Porém, uma vez por semana, nas quartas-feiras à noite, o guarda-roupa de Gilmar muda radicalmente. Por volta das 18h30, ele veste um paletó preto que comprou no início deste ano e vai à sessão da Câmara Municipal de Itambé, na Mata Norte de Pernambuco, onde exerce o mandato de vereador pela primeira vez. Conhecido como Índio do Manguzá, Gilmar tem duas vidas entre as cidades irmãs de Pernambuco e Paraíba. E em ambas, ele quebra rótulos e preconceitos. Num país de tantos funcionários fantasmas, ele se divide em dois para trabalhar e defende mudanças para a política de Itambé na mesma velocidade que tenta varrer as ruas de Pedras de Fogo. Essa não é uma história comum de ascensão social. É a de um homem que é gari, apesar de ser vereador, e conseguiu ser exceção à tese de invisibilidade pública apresentada pelo psicólogo social Fernando Braga, em 2008, na Universidade de São Paulo. Se a tese apontava a facilidade das pessoas que não têm qualificação técnica ou acadêmica de ficarem invisíveis, Índio do Manguzá, como gosta de ser chamado, não faz parte dela. Está fora dos padrões. O vereador-gari nunca teve uma vida fácil. Até os 17 anos, morava em Pedra de Fogo e trabalhava com o pai, José Monteiro da Silva, falecido no ano passado. Foi agricultor, pintor, cortador de cana e tantas coisas mais que perde as contas. Fazia qualquer biscate que pudesse trazer comida para casa e ajudar a alimentar os irmãos, nove ao todo. Chegava a passar de 15 a 20 dias com o pai, seu maior exemplo de vida, nas plantações da mata de Salamago e do Rio.
O trabalho árduo, contudo, nem sempre foi suficiente. Para sobreviver, como tantos Silvas nesse Brasil, sentiu-se muitas vezes excluído e humilhado por dormir em cama de vara e passar fome. Índio perdeu quase todos os dentes comendo farinha com mel, mas conseguiu um corpo robusto, pronto para a dureza da vida. Esse alimento básico, recebido na escola, principalmente, o ajudou a concluir o ensino fundamental. Inspirado nos conselhos do pai, a vida melhorou quando Índio começou a dar um sentido a sua dor, a dividir o pouco que tinha cada vez mais. Em 2004, com apoio de amigos em Itambé, iniciou um trabalho social, distribuindo munguzá aos sábados na comunidade do Maracujá, onde mora até hoje. Ganhou, a partir de então, o apelido pelo qual se tornou conhecido. Um nome que simboliza sua luta nas matas do interior pernambucano pela sobrevivência e sua solidariedade para os ajudar os que têm tão pouco, como ele. Dois anos depois, Índio passou num concurso público de gari, em Pedra de Fogo, com uma nota de 7,5, e começou a ganhar cerca de R$ 1 mil. O dinheiro não se multiplicou porque ele sempre procurou ajudar os vizinhos. Mas os amigos sim, estes cresceram.
“Minha situação foi diferente daquele (psicólogo) que disse que o gari era invisível. O gari ou qualquer outra pessoa, só é invisível quando é egoísta. Só é invisível quando olha para si próprio. O fator diferencial da minha história é o seguinte: ‘se eu tiver um pacote de fubá, eu vou dividir com aquele que está passando necessidade’”, afirmou, com os olhos marejados.
A preocupação com o outro levou o gari a tentar um mandato político em 2012. O estopim teria sido quando ele estava numa das comunidades de Itambé, viu crianças comendo barro e, pouco depois, encontrou uma família que não se alimentava desde o início da manhã. “A comunidade que eu ajudava dizia: ‘Índio, sai candidato. Você sem ter nada faz, imagine se for vereador’”, lembrou, reproduzindo as palavras de uma conhecida. Tais palavras foram sendo trabalhadas com um conselho aqui, outro acolá e resultaram numa vitória nas urnas de Itambé com 789 votos. Ele foi o sexto mais votado do município e tem muitas histórias para contar.
A família e as doações
Índio Manguzá não se rendeu ao jeito de sobreviver tão criticado pela escritora Lya Luf. Aquele que evita comer o lixo concreto, mas engole o lixo moral, fingindo que está tudo bem. Casado há 15 anos com a mesma mulher, Fernanda Maria da Conceição, 36, o gari que é vereador nunca se acomodou com o lixo moral. Ainda tem vergonha da pobreza que vive com a esposa e quatro filhos, mas tem juntado o salário de vereador, cerca de R$ 3 mil, com o de gari, aproximadamente R$ 1 mil, para ajudar à comunidade e, vez ou outra, comprar um móvel para a casa, um lugar muito humilde.
Os adversários e aliados dizem que ele está mergulhado em dívidas, porque comprou um carro, um Strada cinza, ano 2010, e tem feito muitas festas para a comunidade, o que não seria papel do vereador. No Dia das Mães, por exemplo, Índio encomendou um bolo de 30 quilos e deu vários tipos de presentes às mulheres do bairro do Maracujá. Antes, já tinha doado 52 kits escolares e comprado 600 ovos de páscoa para as crianças, além de levar e trazer moradores de Itambé para hospitais do Recife ou de João Pessoa.
Apesar dos gastos vistos como excêntricos, a vida social de Índio ainda contrasta com a vida pessoal. A residência dele tem dois quartos sem portas, paredes verde e rosa gastas, móveis esmaecidos. Os quartos mal iluminados são isolados de uma pequena cozinha por lençóis coloridos e o guarda-roupa onde pendura o paletó está com a porta quebrada. Na sala, os dois filhos menores dormem num beliche, separados do sofá com uma cortina vermelha. “Eu nunca vi um vereador fazer o que ele fez”, conta a mãe, Maria Ivete Marcolino, 66 anos. “Reclamam tanto que ele comprou esse carro, mas ele vive levando as pessoas para o hospital”, protesta.
Para contestar as queixas de assistencialismo, Índio diz que também fiscaliza o poder público, sua verdadeira função. Conta que reclama quando não vê as obras prontas e já vem recebendo crítica dos aliados por tantas cobranças. “Eu também sou fiscal e tenho projetos aprovados. Não ajudo as pessoas de agora. Isso ninguém pode falar de mim”, arrematou, com a voz embargada.
A câmara e as ruas
Orgulho e preconceito
É visível o preconceito que Índio do Manguzá ainda sofre entre os colegas de Câmara, 11 ao todo, contando com ele. Especialmente pelo fato de ele ainda trabalhar como gari em Pedras de Fogo. “Ele só vai ter esse mandato, porque ninguém aguenta ficar nessa rotina”, disse um vereador, pedindo reserva no nome. Já o presidente da Câmara, Edvaldo do Caricé (PSB), procurou amenizar. “Ele tem vontade de acertar, mas, muitas vezes, é precipitado. Muitas vezes quer dar um passo maior que as pernas. Muitas vezes, ele chega aqui brabo, querendo resolver as coisas, mas não é assim”, acrescentou, sem querer contar que passo tão grande era esse pretendido por Índio. “O que posso dizer é que ele tem o mesmo direito de todos e merece crescer na vida”.
Entre os garis, contudo, a presença de Índio do Manguzá serve como uma inspiração. Segundo Elço Pereira, 35 anos, chefe de divisão de limpeza urbana de Pedra de Fogo, ele continua fazendo o mesmo trabalho de antes, mesmo depois de se eleger. “É muito bom que ele tenha se elegido porque ainda existe muito preconceito em relação aos garis, mas isso está mudando. É uma vitória”, afirmou. “Ele realmente é uma pessoa do bem”, acrescentou o gari José Flávio, 24 anos, companheiro de Índio nas faxinas matinais.
Para Índio, que enche os olhos de lágrimas ao contar sua trajetória, é mais fácil limpar as ruas do que mudar a política. “Mesmo assim, eu vou fazer a minha parte. Eu vou entrar para a história política desse país como varredor de rua, como primário… Eu me orgulho porque respeito o ser humano. Isso não tem preço. Com ou sem paletó, a roupa não importa ”, prometeu.