terça-feira, 28 de dezembro de 2010

DO ALTO DE NOSSAS VASSOURAS


Nada de varrer pra baixo do tapete: podem imaginar a dor de um ser humano que é invisível? É como se sentem os garis, incapazes de despertar sequer um “bom dia” dos demais humanos que cruzam na rua com eles. Eles estão ali, mas não são humanos, são coisas, uma farda, uma função, sei lá. E depois de anos, a dor e a estranheza inicial do “ué, ninguém tá me vendo aqui?” torna-se costume e talvez eles nem mais se dêem ao trabalho de levantar os olhos para ver as pessoas. Só eles, o lixo e as vassouras. Aliás, se o violão é o companheiro poético do tocador, imaginem se as vassouras falassem: quantos segredos, quantos causos, quantas surpresas! Se a bruxa voa nela, é ela quem liga o gari à terra asfaltada, espada para o desafio diário.
Este ano começou com a polêmica sobre o famoso apresentador que admirou-se com o horror dos rapazes da “mais baixa escala de trabalho” estarem ali na TV, fazendo comercial e desejando um ano próspero. Como pode uma gente que ganha pouco, fede, é invisível, ainda por cima tentar a visibilidade no grande veículo de comunicação de massa e surgir sorrindo, positivos e confiantes de um ano bom? O que para alguns seria uma simpatia, para o jornalista foi o motivador da incredulidade. Honestamente, em nome de quantos esta sensação é real? Quantos acham que a pele destes senhores está impregnada do chorume? A quantas anda nossa piedade capitalista e, mais que isto, nossa luta pela insalubridade e ganhos econômicos maiores para quem recolhe a nossa podridão? Como vamos lidar com a decomposição lenta e os problemas que o lixo trouxe ao longo da história, para as sociedades? Pois terminem 2010 lendo a tese do psicólogo Fernando Braga da Costa, da USP, que se vestiu de gari durante longo tempo e disse que virou um poste, um orelhão, objeto do mobiliário urbano. “Vindos do Nordeste, negros ou mulatos na maioria, vivem encolhidinhos, olhando pra baixo; os garis são carregados na caçamba da caminhonete junto com as ferramentas. É como se eles fossem ferramentas também”.
Pois estamos em dívida com estes amados e imprescindíveis trabalhadores. Precisamos dar uma aliviada, fazer um chamego nestas almas que devem aparecer. Em nome dos excluídos, desejo-lhes um ano de justiça, onde cada um de nós olhemos no fundo dos olhos do primeiro gari que encontrarmos na rua, e vamos dar um sonoro “bom dia”, para tirá-los da sensação de invisibilidade, e deixar claro o sinal da existência. Subam nas vassouras e partam para o lugar onde nascem os sonhos!
Por Milton Cunha, carnavalesco e Doutor em Ciência da Literatura pela UFRJ, extraído do Site: http://odia.terra.com.br/portal/opiniao/html/2010/12/milton_cunha_do_alto_de_nossas_vassouras_133485.html e de seu Blog: http://odia.terra.com.br/blog/miltoncunha/

domingo, 21 de fevereiro de 2010

O SORRISO MAIS VIP DO CARNAVAL

Renato: o Sorriso mais vip do carnaval
O currículo do gari Renato Lourenço, de 45 anos, vai além das centenas de ruas nas quais já passou a vassoura, que ele trata como “minha bandeira”. Sorriso, como passou a ser conhecido desde o carnaval de 1997, quando sambou enquanto varria a Sapucaí, ganhou fama e já fez show até na Europa. Em 2006, carregou a tocha das Olimpíadas de Pequim pelas ruas do Rio de Janeiro. Este ano, ele foi a celebridade mais vip do sambódromo, com acesso livre a quatro camarotes e direito a encontro com a estrela Madonna, a rainha do pop. — Não fui eu que conheci a Madonna. Ela é que me conheceu. Brincadeiras à parte, é um prazer receber esses artistas na nossa cidade. Quanto mais gente importante, melhor para o carnaval — festejou Renato. Para não perder a semana de Momo e a oportunidade única de “bater um papo” com Madonna, Lourenço superou as dores causadas por uma inflamação no púbis. Afinal, um carnaval sem Sorriso não seria tão alegre.
'Difícil é limpar a cidade'
Renato trabalha no coleta de lixo há quase 15 anos. No dia 22 de dezembro de 1995, deixou de ser fiscal de mercadorias de uma loja de móveis para pegar na vassoura. Até hoje, trabalha na área da Praça Comendador Xavier de Brito, na Tijuca. Não pega tanto no pesado, mas reconhece o valor da labuta. — Devo tudo ao meu emprego. A melhor fantasia que um cidadão pode ter é a carteira de trabalho. Encontrar a Madonna é mole. Difícil é limpar as ruas debaixo de sol, chuva, temporal — afirmou.
Luta pelo maior sonho, a casa própria
Quando a vassoura de Sorriso leva os confetes para a lixeira e o pierrot recolhe a fantasia, o cotidiano volta a bater à porta do gari mais famoso do Rio. Garoto-propaganda de uma cervejaria e celebridade no carnaval, ele batalha por seu maior sonho: livrar-se do aluguel. Morador de Tomás Coelho, divide a casa com a mulher Leila, de 37 anos, e os filhos Jeferson, Renan e Larissa. — Ser famoso não é a mesma coisa que ter dinheiro. Ralo muito para sobreviver — disse Renato.
Futuro Turismólogo
As ruas devem perder, em breve, o seu ilustre varredor. Há 15 dias, Sorriso ganhou uma bolsa de estudos e está cursando Turismo em uma faculdade particular. — Preciso investir no futuro, melhorando minha formação — afirmou o gari.
Extraído do site: http://extra.globo.com/blogs/rodadesamba/posts/2010/02/20/renato-sorriso-mais-vip-do-carnaval-267978.asp

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

CONCURSO DEFINE AS 10 FINALISTAS DO MISS GARI DE SÃO PAULO

Emoção e suspense na 2ª semifinal
Até mesmo as candidatas mais seguras e controladas, nesta segunda e última semifinal do concurso Miss SIEMACO, realizado pela Secretaria da Mulher, viveram momentos de muita emoção e suspense. A eliminatória, realizada dia 30 de janeiro no espaço STIESP, classificou 10 candidatas que participarão da grande final marcada para o dia 7 de março. Mas, como bem esclareceu a diretora do SIEMACO ecoordenadora da Secretaria da Mulher, Márcia Adão, desde a primeira etapa do concurso, quando 600 mulheres da categoria se inscreveram, todas já eram vencedoras:
“A invisibilidade é um dos problemas enfrentados pelas mulheres da categoria. Quando criamos o concurso, ele se tornou um desafio também para nós, pois nosso objetivo maior é elevar a auto estima e mostrar à sociedade a importância que essas mulheres têm, não apenas para seus núcleos familiares, mas para toda a cidade. Ao recebermos 600 inscrições tivemos a certeza que nosso recado havia sido compreendido e que essas mulheres estavam dando o primeiro passo para que fossem reconhecidas. Outro desafio é mostrar que ser uma bela mulher não significa necessariamente ter um padrão estético estabelecido pela mídia e sim a beleza do alto-astral, da simpatia e da garra que nossa categoria tem de sobra”, disse Márcia.
As finalistas foram premiadas com uma viagem em um final de semana no Rio de Janeiro. A final será no dia 7 de março, em uma casa de shows da capital.
Extraído do site da SIEMACO (http://www.siemaco.com.br/noticias/02022010/miss_2semi%20_3_.pdf) e do Portal G1, edição SP.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

RESPOSTA DOS GARIS A BORIS CASOY


Garis ofendidos por Boris Casoy não estão magoados
Os garis mais famosos do Brasil nos últimos dias foram localizados pela equipe de reportagem da Folha Online e concederam uma entrevista ao repórter Márcio Neves. Os varredores Francisco Gabriel de Lima e José Domingos de Melo fizeram jus a oração de São Francisco que diz que “é perdoando que se é perdoado” e que não estão magoados com a “frase infeliz” que foram dirigidas a eles pelo jornalista.
Eles disseram que ficaram chateados, mas não estão revoltados. “O pagamento é só Deus que resolve, não tenho revolta e nem mágoa”, diz o gari Francisco Gabriel de Lima. Eles ainda disseram que receberam apoio do Brasil todo e terminam a entrevista pedindo a Deus que abençoe o Boris. Finalizam, com muita humildade, desejando ao jornalista votos de um feliz ano novo com muitos anos de vida.
Parte dessa reportagem foi extraída do site: http://www.vooz.com.br/ - Edição: Jefferson Xavier - Fonte: Jefferson Xavier - Jex
Veja toda a matéria e os comentários na íntegra: http://www.vooz.com.br/blogs/garis-ofendidos-por-boris-casoy-nao-estao-magoados-26427.html

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

ARTIGO DE NEGRO JOBS SOBRE BORIS CASOY

Um feliz 2010 para Boris Casoy
Um episódio lamentável chamou minha atenção na semana passada. O apresentador Boris Casoy, um homem de reputação ilibada e de grande importância para a sociedade, considerado um dos jornalistas mais conceituados da TV brasileira, desferiu um duro golpe contra os garis no último dia do ano. Vejo que a manifestação elitista e preconceituosa dele não condiz com a liberdade de imprensa ou de expressão. No ar, mas sem querer que fosse divulgado, Boris Casoy disse que nós, os garis, somos “merda”. Sem saber que o áudio estava sendo transmitido, ele realizou um comentário pelas imagens passadas em seu próprio jornal. Dois garis, de forma gentil e humilde, desejaram feliz 2010 para todos. Foi o bastante para que Casoy realizasse o seguinte comentário: “Que merda: dois lixeiros desejando felicidades do alto da suas vassouras. O mais baixo na escala do trabalho”.
Penso na dignidade da pessoa humana, no sentido da vida e no que realmente somos e para onde todos vamos quando chegar nosso último minuto aqui na Terra. A primeira sensação que tive foi de humilhação frente aos meus filhos, parentes, vizinhos e amigos. Porque ainda sou e vou continuar sendo gari. Não é uma eleição para vereador, que é cargo passageiro, que mudará minha vida, minha origem e meus laços de amizade. O meu gabinete, vira e mexe, tem a presença e visita de garis. Portanto, não falo aqui com demagogia: sou gari. Permaneço fiel aos meus companheiros. Lutei e luto pelo plano de saúde, pelo plano de cargos e salários e pelo fim de perseguições e demissões sem direito de defesa de nossos companheiros.
E quando vejo um jornalista do gabarito de Boris Casoy externando seus comentários, sincera mente, fico chateado e indignado. Boris é um dos heróis que tive na imprensa, uma pessoa que me motivou a andar pelas ruas e repetir seu bordão: “Isto é uma vergonha!”. Considero você, Boris, ao lado de grandes nomes da televisão brasileira, como Jô Soares, Paulo Francis e Silvio Santos.
Acho que suas desculpas no dia seguinte foram simples frente à gravidade de seu comentário, que ficará registrado para sempre na internet. Acho que toda pessoa é vulnerável, passível de erro. E, sim, ainda continuo acreditando em Boris. Acrecido que ele é um ser em aperfeiçoamento, apesar de grande homem.
Mas como representante dos garis preciso desabafar e explicar para você, Boris, que tais expressões (“merda” e “lixeiro”) não podem representar seu caráter, caso contrário estaremos diante de um potencial criminoso, um racista com poder de emissão de informações, um sujeito individualista e hipócrita.
Falo em nome de todos que limpam essa sujeira produzida pela sociedade, que ainda está longe de ser civilizada quanto ao tratamento do lixo que produz. Não que seja melhor que os demais colegas. Acontece que ocupo cadeira na Câmara Municipal de Goiânia e tenho mais acesso aos meios de comunicação e informação. Por isso hoje mesmo ligarei para a TV Bandeirantes e pretendo falar com o apresentador, requisitando que aprimore seu espírito em evolução e peça desculpas com um grau maior de elaboração. Acredito que Boris não pode simplesmente pedir desculpas, como fez, e continuar sua vida normalmente. Deve estender suas reflexões, aprimorar seu espírito, direcionar sua atuação para comportamentos menos preconceituosos e integrar entidades da sociedade civil que lutam pela igualdade de direitos entre todos – sejam homossexuais, sejam deficientes físicos, negros ou garis.
Em sua manifestação monstruosa, Boris censurou internamente um direito dos garis expressarem “feliz 2010”. Quer dizer: o médico e a professora podem desejar um bom 2010 para todos, mas os garis não? Qual o problema com o gari, Boris? Não é gente? Não trabalha? Não desempenha sua função corretamente? As ruas estão, por acaso, sujas? Se explique melhor, querido.
Você merece o perdão do gari brasileiro. Mas deve se informar: não somos comedores de carniça nem estamos na última escala do trabalho. Porque, senhor jornalista, no Brasil vale é a lei. E a lei não escalona o trabalho humano. Realizamos a limpeza do planeta. Você nos informa. Garis existem nas ruas da África, da Europa ou Ásia. Se somos predestinados a limpar o mundo e você a informar, apenas cumprimos funções diferenciadas dentro da sociedade. Desejo ruas mais limpas, imprensa sem sujeiras e parlamento limpo. Quero ter minha consciência limpa e livre do materialismo que possivelmente motivou a infeliz reflexão. É isso, Boris, que desejo para você em 2010: prosperidade, saúde, riqueza e bom senso em seu trabalho.
Na medida em que assimilei as suas palavras na TV Bandeirantes senti um orgulho caloroso no peito. E jamais expressões como essas (‘lixeiro’, ‘baixo’, ‘merda’), que ouvimos nas ruas todos os dias, irão nos afetar. Somos fortes. Trabalhamos com o sol cortando nossa pele. Enfiamos a mão na matéria decomposta. Imploramos por um copo de água nas ruas. Mas acredito que nenhum gari vai se sentir menor por isso. E sabe o motivo, Boris? Porque existem garis com mestrado, doutorados e pessoas ainda mais qualificadas em estudo que você. Elas exercem com dignidade um trabalho que deveria ser motivo de orgulho para todos. Todos nós, com faculdade ou não, com respeito dos vizinhos ou não, somos trabalhadores honestos, vitoriosos por vencer uma prova de concurso público e dignos de termos nossa importância. O preconceito existe. E vamos lutar contra ele. Definitivamente, não é uma vergonha ser gari, Boris. Enfim, feliz 2010.
Extraído do Diário da Manhã:

http://www.dm.com.br/materias/show/t/um_feliz_2010_para_boris_casoy - Negro Jobs é gari e vereador em Goiânia (garinegrojobs@gmail.com / http://www.negrojobs.com.br/)

sábado, 2 de janeiro de 2010

BORIS CASOY - PRECONCEITUOSO APRESENTADOR HUMILHA GARIS


Preconceituoso apresentador humilhada garis quando o som vaza durante jornal da Band no dia 31 de Dezembro de 2009.
Isso é uma vergonha, seria muito pedir sua demissão da televisão nacional?
Boris Casoy agora tem milhares de inimigos no Brasil
O jornalista Boris Casoy ao cometer a gafe de criticar os garis num vazamento de um vídeo publicado no Youtube não imaginou a tamanha repercussão negativa sobre seu trabalho e que gerou protestos em todo o País em sites, blogs e outros jornais.
Uma grande parte de brasileiros que o admiravam passaram agora a ter repúdio do seu profissionalismo e falam em boicotar seu jornal na Band. Pelo menos, os internautas mais fervorosos estão profundamente indignados com suas infelizes declarações. E não adiantou pedido de desculpas no telejornal dessa sexta-feira (01). Já existem na internet movimentos como “Fora Casoy Já”.
O jornalista caiu no seu próprio bordão "Isso é uma vergonha".
Parte dessa reportagem foi extraída do site: http://www.vooz.com.br/ - Edição: Jefferson Xavier - Fonte: Jefferson Xavier - Jex

MURAL DO GARI