domingo, 30 de outubro de 2011

COM DIREITO A SAMBADINHA, EX-GARI LEVA OURO

Com direito a sambadinha, ex-gari leva ouro e dedica ao 'pessoal da coleta'
Último medalhista do Brasil nos Jogos Pan-Americanos, Solonei Rocha da Silva disputou em Guadalajara apenas a terceira maratona da carreira. A vitória foi uma surpresa e coroa um caminho muito curioso e cheio de dificuldades.
Até dois anos atrás, Solonei era gari e corria atrás dos caminhões de lixo de Penápolis, no interior de São Paulo. Ele trabalhou como funcionário de companhias de limpeza até descobrir o caminho do atletismo.
Depois de conquistar a medalha, Solonei lembrou-se de suas origens. "Quero agradecer ao pessoal da coleta", disse o novo campeão pan-americano.
Solonei Rocha da Silva era gari em sua cidade natal, Penápolis, no interior de São Paulo, até dois anos atrás. Já aos 27, incentivado por um amigo, ele começou a correr e passou no teste promovido pelo técnico Clodoaldo do Carmo em 2009. Desde então, mora na capital paulista.
Hoje aos 29, Solonei conquistou neste domingo sua maior vitória na carreira, o ouro na maratona nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara. O atleta se preparou por quatro meses para a prova, primeiro no Brasil e depois nas altitudes de Paipa (Colômbia) e São Luis do Potosí (México) por dois meses.
Na comemoração, ele carregou uma bandeira do Brasil e se aproximou de um grupo que tocava samba nas arquibancadas. Solonei não teve dúvida: chegou mais perto, aproveitou o embalo e deu seus passos, arrancando aplausos dos espectadores, que sofreram com o sol em Guadalajara.
"Penápolis é campeã!", gritava o brasileiro. "Quero agradecer ao pessoal da coleta, ao meu treinador, à minha cidade, que deve estar comemorando", afirmou, logo após a maratona.
"Há três anos estava acomodado, não tinha nem terminado o ensino médio", revelou. "Quero fazer um vestibular de Educação Física. Tenho projeto de ficar alguns anos como atleta profissional, quero continuar correndo até os 40 anos, e depois trabalhar com a categoria de base no atletismo em minha cidade, Penápolis", afirmou Solonei, já na entrevista coletiva.
"Quero formar grandes atletas, grandes seres humanos na minha cidade, fazer peneiras em várias modalidades. Com essa medalha, alguns políticos vão começar a olhar com bons olhos a modalidade que pratico. O Brasil é o país do futebol, mas mostramos que temos outro esporte para dar alegrias", falou.
Extraído do site:
http://espn.estadao.com.br/pan2011/noticia/223661_COM+DIREITO+A+SAMBADINHA+EX+CATADOR+DE+LIXO+LEVA+OURO+E+DEDICA+AO+PESSOAL+DA+COLETA por Antônio Strini e Thiago Arantes, de Guadalajara (México), para o ESPN.com.br - Crédito da imagem: Reuters

domingo, 16 de outubro de 2011

EX-GARI SONHA SER MESTRE EM UNIVERSIDADE

Ex-gari vira professor da rede pública e sonha ser mestre em universidade
João Ailton, 33 anos, dá aulas de português em escola pública de Diadema.
Ele resume o Dia do Professor em uma frase: 'Ensinar é gratificante'.
O menino que aos 12 anos ensinou o tio semianalfabeto a escrever o nome para preencher uma ficha de emprego já mostrava o talento para ensinar. Seguiu a intuição, entrou na faculdade de letras e para pagá-la aos 22 anos trabalhou como gari, varrendo as ruas de Diadema, no ABC, por mais de um ano. João Ailton de Oliveira Santos, de 33 anos, atua na rede pública do Estado de São Paulo e compõe o corpo docente da Escola Estadual José Fernando Abbud, em Diadema.
Neste sábado (15), Dia do Professor, diz que valeu a pena o esforço, que ensinar é gratificante, mas espera que a carreira seja mais valorizada. "Gosto de ser professor, é sensacional. Mas a profissão está um pouco difícil com salas superlotadas, falta de equipamento e salários baixos. O que compensa é o carinho dos alunos", diz.
Santos dá aulas de português em turmas da quinta série, sétima série e do primeiro ano do ensino médio. Prefere os alunos dos anos iniciais por achar que eles se dedicam e demonstram mais afeto. Recentemente foi aprovado no concurso público da rede municipal de São Paulo e no próximo ano, se for convocado, pretende conciliar os dois empregos, em São Paulo e em Diadema, com um mestrado. A meta é lecionar em universidades.
'Trabalhador fantasma'
O emprego como gari foi sugestão de seu pai que conhecia o gerente da empresa. Santos não teve dúvidas em aceitar, passou por uma entrevista e logo foi para o batente. O salário era de cerca de R$ 400 mensais, o suficiente para pagar a mensalidade.
"Nos primeiros dias foi um choque porque era um trabalho pesado e braçal que nunca tinha feito. Trabalhava um domingo sim e outro não. Era a pior parte porque neste dia fazíamos a coleta das feiras."
À noite, na faculdade só os amigos mais próximos sabiam do ofício de Santos. "Não falava muito porque sabia que haveria discriminação. Gari é um trabalhador fantasma, alguém invisível. A pessoa está do seu lado, joga um papel no chão e nem olha para você."
Santos não se envergonha da experiência e diz que nesta época aprendeu a ser perseverante, como um professor tem de ser. "A rotina era cansativa, mas não pensava em desistir. Sempre tive incentivo dos meus pais mas sabia que valia a pena batalhar por um objetivo." O professor lembra que os colegas garis diziam que ele aguentaria no máximo dois meses de trabalho e que depois de superar a expectativa e conseguir se manter no cargo, virou exemplo.
O professor só deixou as vassouras quando conseguiu um estágio em um colégio no Jabaquara, Zona Sul de São Paulo, onde estudou. De estagiário, passou a professor eventual - que cobre faltas dos docentes titulares - até ser aprovado em um concurso, em 2004, e seguir para a escola José Fernando Abbud, onde está até hoje.
"Gari é um trabalhador fantasma, alguém invisível. A pessoa está do seu lado, joga um papel no chão e nem olha para você" (João Ailton de Oliveira Santos, professor).
Extraído da Globo.com - Vestibular e Educação do dia 15/10/2011 - Site:
O João Ailton foi citado aqui mesmo no meu Blog em 2009, veja a matéria:

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

LATAS DE LIXO QUE FALAM

Latas de lixo que falam divertem quem passa pelas ruas de Londres
A ideia foi de uma artista plástica inglesa, que dirige uma ONG destinada a descobrir formas de tornar a vida dos britânicos mais divertida. Depois de promover a instalação de 100 mesas de ping pong nos parques de Londres, surgiram as latas tagarelas.
Em Londres, o sistema de coleta de lixo oferece um exemplo de sucesso. E a receita básica do projeto é o uso do humor.
Elas agradecem, aplaudem, até cantam para o cidadão que deposita o lixo no lugar certo. São lixeiras educadas.
“Eu pensava que já tinha visto tudo na vida, mas isso é surpreendente”, diz uma senhora.
Surpreendente e engraçado. Um músico brasileiro que mora em Londres mal acreditou no que ouviu. “Me pegou de surpresa. Mas achei interessante. Com certeza, é uma boa iniciativa”, diz.
O projeto começa em Londres, com 30 latas de lixo espalhadas pelos principais parques da cidade. E até julho do ano que vem os recipientes falastrões deverão estar presentes em todo o país, divertindo e, sobretudo, incentivando as pessoas a botar o lixo no lugar dele.
A ideia foi da artista plástica inglesa Colette Hiller, que dirige uma organização não governamental destinada a descobrir formas de tornar a vida dos britânicos mais divertida. Depois de promover a instalação de 100 mesas de ping pong nos parques de Londres, surgiram as latas tagarelas.
“Por que deixar que as coisas corriqueiras continuem triviais se podemos torná-las mais atrativas e mais interessantes?”, ela se pergunta.
Segundo a arquiteta, as prefeituras e empresas locais bancam o projeto. E o resultado é garantido. Um levantamento do sistema de limpeza urbana mostra que as lixeiras falantes coletam três vezes mais lixo do que as latas comuns. Aplausos para a cidadania.
Reportagem do Jornal Nacional, Edição 04/10/2011 - Site:

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

COLETA AUTOMATIZADA VIRA ROTINA


Coleta automatizada de lixo entra na rotina da cidade
Um mês e meio depois de iniciar a coleta automatizada do lixo orgânico domiciliar numa área-piloto de Porto Alegre, o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) ainda trabalha em alguns ajustes da operação, mas já recebe mais solicitações de contêineres em lugares que ficaram fora da área-piloto do que reclamações sobre problemas pontuais com os novos equipamentos que vão se integrando à vida da cidade.
“O setor de coleta domiciliar vem recebendo cada vez mais telefonemas de pessoas que desejam contêineres nas suas ruas, nos seus bairros. Pessoas que querem saber quando a coleta automatizada será ampliada. Isto mostra que essa modernização, mais do que amplamente aprovada por quem a está usando, é do conhecimento e cobiçada pelo restante da população também”, explica Mário Moncks, diretor-geral do DMLU.
Nova etapa – A fim de acertar pequenos detalhes com alguns contêineres que ainda são motivo de preocupação, técnicos do DMLU dividiram a área-piloto em 11 setores, com cerca de cem contêineres cada um. Um por um, passarão a monitorar, agora no mês de setembro, mais diretamente o tipo e a quantidade de lixo ali descartada. Ao final de cada semana será possível definir o problema específico de cada contêiner naquele setor e encaminhar a solução imediata e definitiva.
“Se for lixo seco dentro ou nas imediações do contêiner, reforçaremos a educação ambiental na vizinhança; se for excesso de carga em algum equipamento, aumentaremos a capacidade ou o número de contêineres no local. Se houver obstrução por carros estacionados, estaremos acompanhados da EPTC. E assim iremos deixando em perfeitas condições cada um dos setores”, explica Adelino Lopes Neto, supervisor de operações doDMLU.
A Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), que teve o trabalho de marcaçãodos locais dos contêineres atrapalhado pelas chuvas da semana passada, passará agora a fazer a pintura focada nos setores, para reforçar o trabalho que o DMLU está iniciando. E, assim, a equipe de fiscalização também terá mais facilidade para identificar e cobrar, dos comerciantes principalmente, o descarte correto nos contêineres, evitando rejeitos que devem ir para uma coleta especial.
Sobre as 24 chamadas que o Corpo de Bombeiros recebeu para apagar fogo nos contêineres nesses 45 dias, os técnicos do DMLU informam que só foi necessário trocar e mandar para a manutenção seis deles. E com uma constatação importante: o fogo só cresceu nos contêineres que tinham lixo reciclável, principalmente papel, papelão e plástico, pois o lixo orgânico não queima.
A campanha "Porto Alegre: Eu curto. Eu cuido." é um movimento que une a mobilização de todos os porto-alegrenses com ações concretas da prefeitura. A primeira delas é a coleta automatizada de lixo, um grande avanço que vai garantir mais facilidade e limpeza.
Reportagem extraída do site: http://www2.portoalegre.rs.gov.br/dmlu/ - Foto: Guilherme Santos/PMPA - Complemento, reportagem do Jornal Nacional, Edição do dia 04/10/2011 21h27 - Site: http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2011/10/novo-sistema-de-coleta-automatizada-reduz-lixo-nas-ruas-de-porto-alegre.html?utm_source=g1&utm_medium=email&utm_campaign=sharethis

terça-feira, 4 de outubro de 2011

381 TONELADAS DE LIXO NA CIDADE DO ROCK

Comlurb remove 381 toneladas de lixo da Cidade do Rock
Nos sete dias de shows, a Comlurb removeu 381 toneladas de lixo da Cidade do Rock. No domingo (2), último dia do festival, o acumulado foi de 56 toneladas de resíduos. Foram coletadas 41 toneladas de lixo e 29 toneladasde materiais potencialmente recicláveis foram encaminhadas para a Estação de Transferência de Jacarepaguá, de onde serão entregues à Cooperativa Barracoop. Doze toneladas de lixo orgânico vão para a Usina do Caju para compostagem e produção de adubo orgânico.
Os catadores da Barracoop recolheram 15 toneladasde recicláveis, entre papelão, papel misto, plástico e latas. Os contêineres que ficaram à disposição do público estimularam o descarte correto, com adesivos informando sobre a coleta seletiva e separando o lixo orgânico.
Duzentos garis atuaram em três turnos, 24 horas por dia, na Cidade doRock e intensificaram a limpeza, trabalhando em duplas, nas áreas de livre acesso próximas aos palcos e nas praças de alimentação. A liberação para levar alimentos diminuiu a quantidade de embalagens e o público começou a utilizar um pouco mais os 800 contêineres que estavam à disposição para receber resíduos orgânicos e recicláveis.
Para incentivar o descarte correto, nos intervalos foi transmitida uma animação com o Gari Roqueiro incentivando a todos a tomar uma atitude e colocar o lixo na lixeira certa, reforçando o slogan Por um Mundo Melhor.
O serviço de limpeza realizado pela Comlurb teve início no dia 19 de setembro e nessa fase de preparação da Cidade do Rock foram geradas 50 toneladas de resíduos. Nos serviços na Cidade do Rock e no entorno foram utilizados 659 veículos e equipamentos. A Comlurb fez o uso racional da água utilizando água de reuso na limpeza. Os resíduos comuns estão sendo encaminhados para o Centro de Tratamento de Resíduos - CTR-Rio, em Seropédica.
Informação Agência Rio - Extraído do site:

terça-feira, 27 de setembro de 2011

APOSENTADORIA ESPECIAL PARA GARIS

Senador Vicentinho propõe aposentadoria especial para Garis
O senador Vicentinho Alves (PR), cumprindo uma de suas propostas de campanha, deu entrada noSenado ao Projeto de Lei Complementar (PLC) nº 577/2011 que propõe concessão de aposentadoria especial ao segurado do regime geral de previdência social que exerça as atividades de coleta de lixo, de qualquer natureza - do selecionador de lixo para fins de reciclagem ao profissional que trabalha com varrição de vias públicas e logradouros.
O projeto é minucioso sobre as condições que incluem o gari ou catador de material reciclável na proposta de benefício – no critério da Insalubridade no artigo 1º, Vicentinho sugere que “é devida a aposentadoria especial, uma vez cumprido o período de carência, ao segurado que exerça as atividades de coleta de lixo, de qualquer natureza, de selecionador de lixo para fins de reciclagem, e de varrição de vias públicas e logradouros, durante 25 anos, desde que sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física.
Insalubridade
Ao considerar a justificativa de seu projeto, Vicentinho entende que na execução dessas atividades, o trabalhador fica exposto a condições extremas de insalubridade, mas não tem reconhecida essa condição pela seguridade social do País.
“Apesar de essas atividades serem reconhecidas como nocivas à saúde, o direito à aposentadoria especial de quem as exerce não é reconhecido pelo INSS, sob a alegação de que as atividades de coleta de lixo não são insalubres, restando ao trabalhador procurar pela satisfação de seu direito na Justiça. Precisamos garantir a estes trabalhadores as condições dignas sobre a função que desempenham, oportunizando garantias de aposentadoria, uma vez que estão sujeitos ao risco de contaminação e a seguridade social não os ampara neste ponto”, relata Vicentinho.
Comprovação
O PLC 577 dispõe ainda em outros artigos que, aconcessão da aposentadoria especial dependerá de comprovação pelo segurado, junto ao Instituto Nacional do Seguro Social–INSS, do tempo de trabalho permanente, não ocasional nem intermitente, em condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física.
“O trabalhador para isso, claro, deverá comprovar, além do tempo de trabalho, que a exposição aos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, pelo período equivalente ao exigido para a concessão do benefício, o condicionam à concessão”, relata Vicentinho no Projeto de Lei. (Assessoria de Imprensa Vicentinho Alves)
Projeto de Lei na íntegra: Em PDF - http://conexaoto.com.br/arquivo/18436

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O GARI QUE FALA ESPANHOL

André Antônio da Silva, 22, é gari. Mas quer mais. Para isso, está focado em aprender idiomas
O primeiro trabalho com carteira assinada tem outras vantagens: treina o espanhol dando dicas aos estrangeiros. Imagem: Vida Urbana
O chefe de André ficou sem entender o motivo da insistência. Há minutos eu esperava que o rapaz terminasse o serviço e me concedesse entrevista. “Não sei se vocês vão poder estampar a foto dele no jornal”, alertou. André era a figura do cansaço. De boné sujo e roupa ensopada pelo suor e pela água da chuva. Limitei-me a dizer que o rapaz tinha uma história diferente. O chefe retrucou com um “diferente?”, sugerindo para que se ouvisse um colega de trabalho de André. “Todos são parecidos”. Insisti na diferença. Revelei que o rapaz sabia falar espanhol e, como ele próprio costuma dizer, arranhava inglês e francês. Surpreso, o chefe desarmou-se: “Nem o português eu arranho. Esse menino está se perdendo no meio do lixo”.
Antônio da Silva por sobrenome, André cuida das ruas do Bairro do Recife. Fez da vassoura instrumento do primeiro emprego de carteira assinada. “O salário é pouco, mas ajuda”. Ajuda para ele soa como palavra mágica. Só conquistou o emprego com o empurrãozinho do sogro. E agarrou-se à oportunidade. Se cai lixo no chão, o gari aparece. Quatro vezes ao dia, no mínimo, em cada rua e avenida. É um exercício de repetição que André, aos 22 anos, aprendeu a valorizar. “A gente limpa, o povo suja.” Para aprender outros idiomas ocorreu o mesmo. Ouviu que exercitar bem a escuta era preciso. Onde quer que esteja no Recife Antigo, a vassoura está numa mão. A pá, noutra. E as orelhas em pé para sons estrangeiros.
De todos as palavras que gosta de ouvir, André ressalta uma: “Regina”. Para repeti-la não recorre aos sotaques dos “gringos”. Sempre pronuncia a palavra com ar de satisfação. Regina, 19, serviu de estímulo para ele correr atrás dos cursinhos de línguas estrangeiras. “Tudo pelo amor”. Os dois se conheceram há cinco anos. Estudavam. Bem focada no futuro, Regina fez André descobrir a importância de aprender um segundo idioma. Ele dividiu-se, à noite, entre as aulas do ensino médio e as de espanhol. Ela já estudava inglês e francês. No curso, André ficou menos de um ano. Casou-se e teve que procurar trabalho. Deixou o curso, mas recorre aos livros de Regina. Se ouve turistas, liga-se, pois tem necessidade de falar.
A chuva despencava no Marco Zero. Por conta da apresentação da Paixão de Cristo do Recife, André deixou a vassoura de lado. E passou a amarrar grades de metal às placas de concreto que cobrem as canaletas da praça. A tarefa exigia força e concentração. E o ouvido ainda mais atento. Em meio às pancadas no concreto, o gari atentou para palavras familiares. Eram dois argentinos. “Yo soy André”, apresentou-se . Foi a senha para um breve diálogo. Nas conversas com os hermanos, o rapaz guiou-se por suas próprias regras. Jamais pergunta os nomes dos turistas. Prefere informar sobre os monumentos, ruas e avenidas. Basta o contato com gente de outros mundos para reanimá-lo do trabalho contínuo. Apenas braçal.
André nasceu num dos sítios de Garanhuns, no Agreste. Ficou cinco ou seis meses por ali, sendo levado pelos pais para a vizinha Jucati. Na época, o menino tinha três irmãos. Espécie de caixeiro viajante, o pai de André se juntava à família de 15 em 15 dias. De tanto viajar, “o coroa” aquietou-se um pouco no Recife. Com poucas perspectivas, André estudava. “Sem muita paixão, é verdade”. Por conta das amizades, deixou de estudar por dois anos. A recuperação veio quando os pais de Regina aceitaram o namoro. Tornou-se gari, sabendo mais que o bê-a-bá dos colegas de ofício. Por isso, quer mais. De olho no mercado de Suape, escolheu como destino o curso de logística. Enquanto Suape parece longe, o gari treina a fala. E nos deixa no Marco Zero, como se predestinado, com “adiós”, “bye, bye”, “au revoir”, “adeus”.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

HOMENAGEM AOS GARIS DA REGIÃO SERRANA

Mais de 600 garis são homenageados por trabalhar em tragédia da Região Serrana
Os 667 trabalhadores da Comlurb, entre garis, encarregados, gerentes e diretores, que se apresentaram como voluntários para ajudar na recuperação de Nova Friburgo após os temporais que atingiram a cidade serrana no início do ano, foram homenageados, nesta sexta-feira, 15 de abril, no Plenário da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, por iniciativa do vereador Adílson Pires.
Numa cerimônia emocionante, com a presença do secretário de Conservação e Serviços Públicos, Carlos Osório; da diretora-presidente da Comlurb, Angela Fonti; do gerente de Operações Especiais, Gilson Nogueira; e do prefeito de Nova Friburgo, Demerval Barboza, os garis receberam Moções de Reconhecimento aos Serviços Prestados.
A sessão foi iniciada com a leitura da carta do prefeito Eduardo Paes, na qual os garis foram chamados de herois. Angela Fonti contou como foi a mobilização para ajudar as áreas atingidas pelas fortes chuvas e se comoveu ao falar da dedicação da equipe Comlurb. "Foi uma verdadeira aula de solidariedade e um marco na história da Comlurb", afirmou.
Durante os mais de 20 dias de operação, os trabalhadores participaram de verdadeira força-tarefa, mas sentiram-se todos recompensados pela oportunidade de levar sua contribuição à cidade-irmã e pelos muitos agradecimentos recebidos da população local. "Espero que uma tragédia como essa nunca mais aconteça, mas, se tivesse que fazer tudo de novo, a gente faria. As pessoas de lá, em meio àquela tristeza, foram muito gentis e gratas", contou o gari Eder Santana Otaviano, da Gerência de Serviços Especiais.
Emocionado e ao mesmo tempo feliz com os abraços recebidos pelos garis, Dermeval convidou a todos para que desfilem no dia 16 de maio em Nova Friburgo, durante os festejos do aniversário da cidade. O convite partiu quando Dermeval tomou conhecimento de que no dia 16 de maio comemora-se, também , o Dia do Gari.
Extraído do Jornal do Brasil 19/04 às 16h34 - Atualizada em 19/04 às 16h41 http://www.jb.com.br/rio/noticias/2011/04/19/mais-de-600-garis-sao-homenageados-por-trabalhar-em-tragedia-da-regiao-serrana/

sexta-feira, 25 de março de 2011

CRÔNICA: O GARI DA SAPUCAÍ


- E quando o carnaval acabar?
- Quando acabar acabou. Ano que vem tem mais.
- Não, não é isso. Quero saber o que vai acontecer quando acabar pra sempre...
Sorriso não era filósofo por profissão, era gari. Se por um lado o carnaval o deixava feliz, por outro o deixava comovido como o diabo. Enquanto se divertia, pensava na infinita finitude das coisas, tudo acaba eternamente, mas vai que um dia acaba de acabar! Haverá alguma última Quarta-Feira de Cinzas? Enquanto não topava com a resposta, pensava na quarta mais próxima, quando voltaria pra Praça Xavier de Brito pra varrer, varrer e varrer, aguardando um outro carnaval chegar.
- A merda dessa vida é ter que trabalhar até no carnaval, Sorriso! 
- Acho não, Xavier. Só assim posso ver o desfile aqui na Sapucaí. 
- Porra nenhuma, Sorriso. Tem é que varrer esta merda toda que o povo caga. 
- Rapaz, deixa de falar besteira. Aqui a gente vê a bunda das modelos passando. Quando na tua vida você pensou em ver ao vivo a bunda da Luiza Brunet? 
- Lá quero saber de bunda, quero dinheiro no bolso e ir embora dormir. 
- Pois eu queria é sambar numa escola dessas, todo mundo aplaudindo, mandando beijo. Nasci pra isso, Xavier. Sou cem por cento carisma, imagina o negão aqui de mestre-sala! 
- Com essa vassoura na mão tu tá mais pra porta-bandeira. Para de falar merda e varre, não vou varrer tua parte. 
Tá certo que ninguém reparava, mas se reparasse veria que Sorriso não andava pela avenida, ele flutuava, ao mesmo tempo em que entrelaçava as pernas como se fossem de uma marionete desgovernada. Segurava a vassoura que nem bandeira de porta-estandarte e dentro da sua cabeça tocava uma bateria prodigiosa que ia descendo pelo corpo, passava pelo coração e o fazia pensar e sentir com os pés. 
- Tá vendo ali, Xavier? 
- O quê? 
- Aquela modelo, é rainha de bateria! 
- E? 
- E que ela não samba porra nenhuma. 
- Novidade. Eu também não sambo e estou aqui. 
- Mas você tá varrendo. Então ela é que deveria estar contigo, varrendo, e eu lá. 
- Então cê quer ser rainha de bateria, né? 
- Num fode, Xavier. Só queria estar lá no meio da Escola. 
Gari não é patrão. Muito menos na Sapucaí, onde é fiscalizado diretamente pelo chefe. O cimento tem que ficar limpinho pro salto das modelos pisar, pra passista não tropeçar, pra baiana poder rodar... 
- Faz silêncio nessa porra! Para de conversar! Limpa direito - gritava o chefe. 
E o samba, pra Sorriso, era que nem canto de sereia. Quando a bateria explodia o silêncio, ele ia afrouxando as cadeiras, os pés saltitavam no chão, os ombros rodavam, a cabeça caía prum lado e pro outro e ele ia atrás que nem folião. Num descuido do chefe, Sorriso deslizou pra perto da Escola, acenou pro público, brincou com as pernas feito um Mané, fez a vassoura parecer encantada e enquanto pisava no chão seus pés faziam som de tambor. O público delirou. Já não se via mais carro alegórico, rainha de bateria, mestre- sala, nem porta-bandeira. Já não se ouvia ronco de cuíca, batuque de tambor. Só se via o samba no pé de Sorriso e se ouvia o chocalho do seu corpo. 
Esse foi o primeiro Carnaval.
Desenho ilustrativa de Rogério - Extraído do Blog No Front do Rio - Texto de Cesar Tartaglia, Email: cesar.tartaglia@oglobo.com.br,  baseado na história do gari Renato Sorriso - Fonte: http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/frontdorio/posts/2011/03/24/o-gari-da-sapucai-370922.asp

domingo, 20 de março de 2011

LIVRO: MÁFIA DO LIXO - al Kartell

O mundo do lixo, licitações fraudulentas e irregulares, contratos superfaturados ou não executados e troca de favores no jogo político são vícios comuns na prestação terceirizada de serviços de limpeza urbana. Aproximação de empresas com poder público alimenta esse círculo, que estende sua área de abrangência também pela Paraíba. 
Repetições de licitações viciadas ou a própria dispensa de licitação, superfaturamento, não-execução de contratos e barganha política, a partir do financiamento de campanhas eleitorais pelas empresas de limpeza urbana, são fatos comuns na prestação de serviços na área de lixo. O argumento da urgência ambiental derruba licitações. O lobby e a permissividade com o poder público resultam em concorrências dirigidas, vencidas por quem está na área há mais tempo. 
A dificuldade de provar a coleta, a varrição e os preços cobrados (o peso do lixo aumenta 40% com as chuvas, por exemplo), associada às dotações orçamentárias milionárias, favorece o superfaturamento dos contratos. Esses mesmos contratos deixam de ser executados em conformidade com os pagamentos efetuados por causa da fiscalização ineficaz. 
Ao mesmo tempo, as empresas sabem como ganhar vantagem no jogo político, atacando numa das principais frentes: as campanhas eleitorais. Nas eleições de 2002, 2004 e 2008, quatro das maiores empresas que atuam no País irrigaram R$ 9,75 milhões nas campanhas de diversos partidos. E isso com base apenas na declaração oficial feita ao Tribunal Superior Eleitoral. 
Vale a pena ler o livro “Al Kartell” do Ênio Noronha ou visitar o portal do http://www.mafiadolixo.com.br/ que por ironia do destino cita a cidade de João Pessoa como rota desta ação mafiosa imunda.
Por Clilson Júnior - Radialista, Jornalista e Blogueiro, atuou em vários programas de rádios em João Pessoa e foi diretor comercial da Rede Estação Sat em Pernambuco. Link: http://www.clickpb.com.br/blog.php?id=67

sexta-feira, 11 de março de 2011

INFARTO MATA VEREADOR GARI NEGRO JOBS

Infarto mata vereador por Goiânia
Morreu na manhã desta sexta-feira (11), o vereador Gari Negro Jobs (PSL-GO), de 52 anos. As causas para seu falecimento ainda não foram divulgadas.
Ele entrou no Hospital do Coração no meio da noite, e por volta das cinco horas da manhã, Negro Jobs veio a falecer. A informação foi dada à RÁDIO 730 pelo vereador Eudes Vigor (PMDB). 
José Batista da Silva, o Gari Negro Jobs, nasceu no dia 8 de fevereiro de 1959, em Mata Verde (MG), e se destacou pela sua forma bem humorada e crítica de fazer campanhas eleitorais na década de 90, além de valorizar a classe mais humilde, os pequenos partidos e as minorias. 
Sua recente eleição teve destaque em importantes jornais brasileiros como Correio Brasiliense, O Globo e Folha de S. Paulo, além de diversas emissoras de televisão. 
Em Goiânia, começou a vida profissional como engraxate e lavador de carro. Foi eleito vereador em outubro de 2008, após tentar sete pleitos. Seu projeto de defesa incluía os negros, minorias sociais, garis, servidores públicos, meio ambiente e soluções criativas para modernizar a cidade de Goiânia. 
Em sua campanha eleitoral, foi o político marcado por ter gastado apenas R$ 3,5 mil, para financiar a gasolina da Brasília Amarela, enquanto os concorrentes gastavam até R$ 600 mil para se elegerem. 
Ele pedia apoio enquanto desfilava no carro com som, e utilizava músicas de John Lennon, Bob Marley e discursos de Martin Luther King para comunicar suas ideias. 
O vereador, que também era inventor e escultor, reaproveitou o lixo encontrado nas ruas para trabalhar em seu marketing político. Durante a campanha de 2008, Jobs defendeu projetos como o Banheiro Público e Limpeza Política da Cidade", que se referia à postura ética dos políticos. 
Na Câmara Municipal de Goiânia, o vereador goianiense exercia a presidência da Comissão do Trabalho na Câmara dos Vereadores.
Fonte: www.radio739.com.br - Célio Silva - Rádio Rio Vermelho

MURAL DO GARI