sexta-feira, 27 de junho de 2014

GARIS DEVOLVEM INGRESSO DA COPA

Garis devolvem ingresso encontrado no chão e são convidados para jogo
Tenaz é o nome do objeto usado pelos garis para espetar e recolher o lixo jogado nas ruas. Tenacidade foi o que teve Valdir Tavares ao encontrar um ingresso da Copa do Mundo espetado em seu instrumento de trabalho, na semana passada.
Sereno, ele fez o que aprendeu com o pai, durante a infância. “Eu devolvi, como devolveria qualquer coisa que não fosse minha. Nem prestei atenção no valor. Não era uma opção, é uma questão de caráter”, conta o gari, ainda sem saber da surpresa que lhe aguarda.
Ao encontrar o ingresso, preso ao tenaz, Valdir não fazia ideia do que se tratava aquele pedaço de papel com dizeres em uma língua estranha. “Eu achei que era um papelão qualquer, um lixo comum. Vi uns escritos em inglês e resolvi perguntar o que era”. O alvo dos questionamentos foi Nilton Rodrigo dos Santos, colega de trabalho, que na hora percebeu do que se tratava. “Reconheci o ingresso da Copa e logo ficamos preocupados em encontrar o dono. Em nenhum momento passou pela nossa cabeça ficar com o bilhete”.
“Um cara chegou aqui assustado, avisando que tinha perdido o ingresso. Pensei que ia ser muito complicado encontrar, mas, pouco depois, apareceu o Valdir dizendo que tinha encontrado. Ele é um exemplo de cidadão de bem, íntegro e ético”, conta Aparício Silva Neto, voluntário da FIFA, sobre a postura do gari. Desnecessário dizer que o dono do ingresso não se conteve em euforia ao saber que as entradas haviam sido encontradas e devolvidas.
Valdir e Nilton são funcionários da Estre-Cavo, empresa terceirizada que presta serviços de limpeza para a Prefeitura de Curitiba. Durante a Copa a missão deles é varrer e recolher o lixo do entorno da Arena da Baixada. “Hoje eles não vão precisar se preocupar com o lixo. Depois da atitude que tiveram, resolvemos liberá-los. Na verdade, isso deveria ser regra, mas hoje em dia é exceção. Eles pensaram no próximo e isso é muito positivo”, afirma a analista de comunicação da empresa, Daniela Leme de Oliveira.
Ao saber do gesto da dupla de garis, a FIFA resolveu presenteá-los com dois ingressos para o jogo entre Argélia e Rússia, na tarde desta quinta-feira (26). A notícia veio momentos antes da partida, em frente ao estádio. “Eu não imaginava ganhar esse ingresso, estou muito emocionado. Só consigo lembrar do meu filho, que é tudo pra mim”, exalta um incrédulo Valdir. “Era meu sonho de criança, ver um jogo de Copa do Mundo, nunca vou esquecer esse momento”, conta Nilton, realizado.
Torcedores russos, argelinos e brasileiros se encantaram pela história dos garis. “Isso é bom para a imagem do país, é uma atitude linda, uma questão de honestidade acima de tudo”, explica a turista catarinense Edna de Oliveira. A verdade é que, ao não fazerem mais do que a obrigação, Valdir e Nilton deram uma prova inquestionável de caráter. Algo tão importante quanto raro nos dias de hoje.
Imagem: Jaelson Lucas/SMCS

domingo, 15 de junho de 2014

HOLANDÊS GANHA UNIFORME DE GARI

Holandês ganha uniforme de gari do Rio e o adota em goleada na estreia
Após pedir roupa para conhecido que limpa porta do prédio em que trabalha e até oferecer dinheiro, Jaspen recebeu presente nesta sexta-feira pela manhã
Pouco antes da delegação da Holanda chegar no hotel em que está hospedada no Rio de Janeiro, um holandês chamou a atenção ao chegar no local com uma camisa da Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza) do Rio de Janeiro amarrada no pescoço. Há seis meses na cidade e com a proximidade da Copa do Mundo, ele viu o uniforme dos garis nas ruas e resolveu usá-lo na abertura do Mundial. Porém, tentou comprar e não conseguiu.
Como a camisa não vende, Jasper resolveu pedir para um amigo que limpa a portaria do prédio da empresa em que trabalha. Mesmo sem falar português, ele insistiu por duas semanas e chegou a oferecer dinheiro pela roupa, mas não teve sucesso. Logo no dia da estreia da Laranja na competição, o amigo gari chegou com um uniforme novo, ainda no plástico, e o presenteou. Após o fim do expediente, ele não largou a roupa nova. Assistiu ao jogo com ela e foi receber a seleção com a camisa laranja.
- Fiquei um tempo pedindo. É laranja, como a camisa da Holanda. Então resolvi usar, gostei dela. Deu sorte - conta.
Sobre a goleada por 5 a 1 sobre a Espanha na Arena Fonte Nova, em Salvador, Jaspen garante que foi a vingança da derrota na final do último Mundial, que para ele ainda estava entalada na garganta.
- Foi um tapa na cara deles, ainda não engolimos o segundo lugar na Copa do Mundo da África do Sul. O quarto gol foi um grande momento, o quinto nem se fala - comemorou, acompanhado do compatriota Timi, e da brasileira Juliana, que também torceu para a Holanda.
Fonte: GloboEsporte.com - http://globoesporte.globo.com/futebol/selecoes/holanda/noticia/2014/06/holandes-ganha-uniforme-de-gari-do-rio-e-o-adota-em-goleada-na-espanha.html - Por Raphael Bózeo
Imagem: Raphael Bózeo

sexta-feira, 13 de junho de 2014

GARIS ANIMAM CENTRO DE TRANSMISSÃO DA COPA

Torcida da limpeza: Garis animam IBC e fazem a festa com vitória do Brasil
Turma de laranja fez a festa durante o jogo do Brasil e chamou atenção em um dos principais pavilhões do centro de imprensa da Copa, no Rio de Janeiro
Enquanto muitos brasileiros estavam de folga, assistindo ao jogo do Brasil com suas famílias, outros torcedores não deixaram de trabalhar na hora do duelo contra a Croácia, na abertura da Copa do Mundo, nesta quinta-feira. O gari Rogério Manhaes, de 47 anos, é um exemplo. Ele saiu de casa cedo, em Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro, para uma jornada de 12 horas no IBC, o centro internacional de transmissão. Como o local reúne a imprensa de todo o mundo e tem televisores espalhados por todos os cantos, a turma conseguiu dar uma espiada no jogo e roubou a cena. Os funcionários da limpeza comandou a torcida pela Seleção no local e chamou atenção dos estrangeiros durante a vitória brasileira.
O grupo conta que teve autorização para dar uma paradinha na hora do jogo. A turma não perdeu a animação nem mesmo quando viu que a TV escolhida para "espiar" o jogo estava sem áudio.
- Somos cariocas e brasileiros, não perdemos a animação nunca - disse Rogério, que usava a camisa do Brasil por baixo do uniforme.
Nem mesmo o gol de Marcelo, que colocou a Croácia na frente, desanimou. Confiante na vitória, a turma da limpeza se manteve firme na torcida e vibrou muito quando viu o Brasil empatar e virar, com Neymar, e ampliar a vantagem, com Oscar. Os mais exaltados pulavam e corriam pelo pavilhão.
Depois da vitória por 3 a 1, o trabalho seguiu ainda com mais alegria. O gari, que trabalha há 14 anos na função, tratou com naturalidade o fato de ter de estar no batente na hora do jogo do Brasil e disse que vai entender se o mesmo acontecer no dia da final da Copa do Mundo, que será no Rio de Janeiro.
- A gente faz de tudo pelo nosso trabalho, é nossa obrigação - afirmou, feliz com a oportunidade de trabalhar em um local que reúne pessoas de todo mundo, o que considera uma oportunidade fascinante.
O Brasil volta a jogar na próxima terça-feira, em Fortaleza, na Arena Castelão, às 16h (horário de Brasília) onde enfrenta o México.
Imagem: Bernardo Eyng

segunda-feira, 24 de março de 2014

SUGISMUNDOS ASSUMIDOS

Para o psicólogo Wadson Gama, infelizmente é fato que alguns brasileiros ainda tratam mal seus colaboradores, sejam eles quem for, e a situação fica ainda mais crítica quando se trata de trabalhadores como garis e domésticas
Goiânia já não é mais a décima, mas sim a nona cidade mais desigual do mundo e a primeira no Brasil segundo um relatório apresentado na abertura do V Fórum Urbano Mundial da Organização das Nações Unidas (ONU) no Rio de Janeiro, a informação é do portal Jus Brasil. A distinção entre as classes sociais de maneira tão exagerada só aumenta as pontes que poderiam ligar as pessoas umas as outras, sejam elas pobres ou ricas. O tratamento dado às pessoas que hoje cuidam do nosso bem-estar em comum, ou seja, a limpeza seja dentro da sua casa ou das ruas é péssimo. A condição e relato desses colaboradores demonstram que cada dia mais alguns brasileiros se prendem às coisas e maltratam as pessoas.
Como você trata seu lixo? Comece por aí, o que você acha de uma pessoa que tem responsabilidade social e ambiental de separar seu lixo doméstico ou comercial, ou até mesmo jogar o papel no chão? De acordo com relatos dos profissionais da área, na rua é notável a falta de consciência de algumas pessoas para com o trabalho do próximo.
Para o coordenador de área da Comurg de Goiânia, Walonir Ferreira Narciso, a desculpa de jogar lixo no chão para não tirar o emprego dos garis é furada. Ele explica que, hoje, em Goiânia a maior parte do lixo recolhido é do que eles chamam de lixo orgânico, ou seja, folhas, galhos e dejetos das muitas árvores que temos na capital. O lixo branco, que seria esse que alguns jogam nas ruas e demais locais públicos, representa uma parte pequena do trabalho dessas pessoas, apesar de ainda incomodar. “Se gasta muito com limpeza na Capital, essa desculpa não cola. Ter uma cidade arborizada tem um preço, e os garis trabalham para que isso não se torne um empecilho”, diz.
Escravocrata
Wadsom Gama é presidente do Conselho Regional de Psicologia, mestre em Psicologia da Saúde e especialista em Psicologia Social, para ele infelizmente é fato que alguns brasileiros ainda tratam mal seus colaboradores, sejam eles quem for, e a situação fica ainda mais crítica quando se trata de trabalhadores como garis e domésticas. “É sim uma questão cultural a relação de emprego que o brasileiro tem, é uma visão escravocrata em que o subordinado não tem direito sobre si mesmo, mas felizmente já existem leis para amparar essas pessoas”, explica. Ele ressalta que um bom exemplo em relação às empregadas domésticas que são contratadas para fazer serviços de limpeza e às vezes alguns outros trabalhos desta área, mas tem que pegar até o copo d’água para a patroa. “Não é isso que deve acontecer, está claro, ela é paga para fazer a faxina, cozinhar, enfim, não para servir”, ressalta o psicólogo.
Indivíduo invisível
Ele ressalta que, na coletividade, em algumas profissões o uniforme torna o indivíduo invisível aos olhos de algumas pessoas, ele cita o livro Homens invisíveis: relatos de uma humilhação social (Editora Globo, 2004), do psicólogo Fernando Braga da Costa. “Em um relato, o escritor fala quanto à cegueira social para com os garis, quando uniformizados. Essas pessoas são tratadas como se fossem obrigadas a se submeterem, o que não é verdade. Tal quadro não se resolve apenas com educação nas escolas, mas principalmente em casa, com pais e mães sendo o exemplo, seja com o gari ou no trânsito, onde quer que seja, respeitar as pessoas!”, diz Wadson.
Para Wadson, a falta de respeito também pode ser vista de maneira mais abrangente e cotidiana graças ao surgimento das mídias digitais, a notícia mostra o que acontece no dia a dia. “Diferente do que acontecia há tempos, então talvez antes não víssemos tanto esses casos por não chegarem até nós como hoje”, ressalta. Ele fala que o ideal seria que houvesse uma reflexão coletiva, e criar então uma vida em comunidade com respeite a individualidade do outro, seja ele quem for: “Temos que salvar nosso próprio mundo começando com nós mesmos”, diz.
Mau costume
Jogar lixo na rua é algo que afeta toda sociedade, cedo ou tarde. Esses dejetos se acumulam nas bocas-de-lobo e causam o caos que, por vezes, é percebido na cidade, durante as chuvas há alagamento em vários pontos em Goiânia. “Trabalho com um grupo de senhoras e elas contam muitos fatos de como são maltratadas todos os dias, por exemplo, dentro do ônibus, mas isso é culpa não só de quem está cometendo a falta de respeito, mas também do sistema que coloca as pessoas em uma situação de calamidade, onde não há outra saída e todos estão mal. Mas obviamente ressalto que explica e, não justifica a ação”, esclarece Wadsom. Ele cita que é possível mudar isso, participando mais dos conselhos municipais e mostrando o seu ponto de vista.
Elizete Alves de Borges, 49, trabalhou como diarista durante 20 anos, hoje, é agente de serviços gerais em uma empresa terceirizada. Ela conta que, em ambas as experiências, nunca passou por nenhum tipo de constrangimento ou mal-estar por sua profissão. “Na verdade eu nunca sofri com preconceito, o que realmente existe de fato são algumas pessoas que são um pouco desaforadas, e querem que você a sirva e isso não existe”, explica. Elizete lembra que não está na profissão por opção, mas tudo o que faz é com amor, portanto, faz bem feito. “Quem não tem estudo acaba optando por esse tipo de emprego, mas eu faço de bom coração. Às vezes fico indignada quando abusam do nosso trabalho, e a gente releva. Já trabalhei para todo tipo de gente, pobre, rico, casais, solteiros. São muitos anos de experiência”, diz.
O gari Agnaldo dos Santos Silva, 39, trabalha nessa profissão há oito anos, antes disso era funcionário em uma confecção de roupas. “Amo o que eu faço hoje, não reclamo em hora nenhuma. Infelizmente em Goiânia, nas ruas, que é onde eu trabalho, tem pessoas sem consciência. Elas veem que estamos varrendo e jogam o lixo no chão na sua frente”, conta. Ele explica que quando iniciou na profissão algumas pessoas, mesmo que da família, pareciam ter nojo, pelo simples fato de ele varrer as ruas da cidade, trabalho digno que trada do bem estar comum da sociedade. ‘As pessoas falavam - Nossa você é gari? Varredor de rua?’ Eu nunca escondi, claro, pelo contrário, defendo a classe com orgulho. É um emprego como qualquer outro, prefiro isso a ficar como outros que vão para o caminho errado, prefiro trabalhar honestamente, isso é meu ganha pão”, ressalta com orgulho.
Preconceito
Para Walonir Ferreira Narciso, os garis são bem tratados pela população nos dias de hoje, tendo em vista o que acontecia no passado quando ele mesmo tinha sua lida diária varrendo as ruas da capital. “Eu tenho 31 anos de empresa, quando chegava a algumas lojas era descriminado por minha profissão. Há anos eu ouvia casos de pessoas que se um gari pedisse um copo d’agua e ela oferecesse, jogava aquele copo que ele utilizou no lixo. O preconceito melhorou muito, mas ainda existe”, cita Walonir.
Para as mulheres que trabalham como gari, as coisas não são diferentes, Silvana Trajano dos Santos, 45, trabalha na área há cinco anos e conta uma história interessante sobre como um uniforme faz, sim, toda a diferença. “Meu filho é engenheiro civil na Caixa Econômica Federal, e acaba de montar um bom apartamento para ele em um setor nobre de Goiânia, então queria presenteá-lo com algumas toalhas e fui até uma loja de enxovais uniformizada. Chegando, eu pedi a vendedora a melhor toalha que ela tivesse, independente do preço, e ela insistia em me mostrar as da promoção, acabou que eu nem comprei, fiquei perplexa com aquilo”, diz. Silvana relata ainda que dias depois voltou na mesma loja, desta vez sem uniforme, o tratamento foi completamente diferente, conseguiu, enfim, presentear o filho.
Apesar dos casos de preconceito com a categoria, Silvana esclarece que há pessoas de boa índole e consciência, as que respeitam e tratam bem os garis. “As pessoas da minha família e círculo de amizade são cultas e não tenho problemas de preconceito quanto a elas”, explica.
Fonte: Diário da Manhã - Goiânia/GO - http://www.dm.com.br/texto/170731 por Nayara Reis

segunda-feira, 17 de março de 2014

GARI VIRA ANJO

Gari com 'asas de anjo' é flagrado recolhendo lixo no DF
Registro foi feito por jornalista que mora na quadra 40 do Guará II.
Leitor diz que equipe costuma ter ideias criativas durante o trabalho.
A criatividade de um gari que trabalhava recolhendo o lixo orgânico na noite deste sábado (15) chamou a atenção de moradores da quadra 40 do Pólo de Modas do Guará II, no Distrito Federal. O homem usava asas semelhantes às de anjo junto ao uniforme convencional.
Responsável pelo registro, o jornalista Rafael Nunes Rodrigues, de 22 anos, conta que não é a primeira vez que a equipe fez algo parecido. “Eles cantam, às vezes usam perucas e fantasias criativas”, disse.
O rapaz aprovou a ideia. “Acho que, com isso, conseguem chamar a atenção para eles de um jeito positivo. Infelizmente, já presenciei muita gente tratando mal, pedindo para sair logo ou reclamando do barulho."
O jovem afirma que notou a situação depois que uma mulher que passeava com um cachorro pediu para o gari posar para uma foto. Rodrigues, que terminou a faculdade apresentando um trabalho sobre a rotina da categoria, com o título "Homens invisíveis: Relato de Profissionais da Limpeza Urbana”, decidiu imitá-la.
“Muitas pessoas não tem consciência do trabalho que eles fazem, de como é importante e dos riscos que eles correm. Eu acho que é um jeito de mostrar isso, mas também de pedir respeito, de uma coisa mais agradável, mais divertida, arrancar o sorriso das pessoas que olham e acham aquilo legal.”
Foto: Rafael Nunes Rodrigues/VC no G1 - Internauta, Guará/DF

domingo, 16 de março de 2014

GARI ESCRITOR DE 3 LIVROS

Gari escritor de 3 livros crê que greve foi inspirada nos protestos de 2013
Haroldo César já dedicou mais de metade da sua vida à profissão de gari. Aos 51 anos, a ocupação, que já exerce há 29, não é apenas fonte do seu salário, mas também inspiração para as histórias e crônicas que conta em seus livros. Desde 2008, ele já lançou três obras, todas de forma independente.
Em entrevista exclusiva ao UOL, o carioca do Engenho da Rainha, bairro do subúrbio, comenta sua paixão pela escrita, que começou em um bar perto de casa, onde se reunia para compor sambas com amigos. E a importância da sua profissão, responsável por, segundo ele, “tudo” que conquistou.
“Infelizmente, o gari é muito mais visto e lembrado na sua ausência. Quando está tudo limpinho, ninguém percebe”.
Para Haroldo, as manifestações de 2013 foram grande fonte de inspiração para os profissionais que organizaram a greve durante o Carnaval deste ano, quando a cidade ficou mergulhada em lixo depois que os garis se recusaram a trabalhar, reivindicando aumento salarial.
Compositor de samba, escritor e roteirista, Haroldo ainda tem planos de lançar uma peça de teatro e mais um livro em breve. E continuará como gari, contribuindo com a sua parte para a limpeza da cidade.
Leia a íntegra da entrevista:
UOL: Como surgiu a vontade de escrever um livro?
Haroldo César: Foi uma coisa inesperada, apesar de eu ser um amante da arte e da cultura. A minha origem na arte, na verdade, é na composição de samba. Durante muito tempo tive uma birosquinha perto de casa, onde reunia os amigos para fazer samba. O nosso sonho, na época, era gravar um disco. Mas, assim que conseguimos dinheiro para fazer, houve uma dissidência e cada um seguiu o seu caminho. Eu, que não sou músico nem cantor, fiquei perdido. E aí, fiquei naquela, “e agora, faço o quê?”.
Nesta mesma época minha mulher comprou um computador e comecei a escrever sobre as duas coisas que mais conheço: composição de samba e vida do gari. E aí fui escrevendo, escrevendo e, como não tinha mais aquele compromisso com o samba, consegui terminar o livro “Garimpando Composições” em 2008.
UOL: Além de “Garimpando Composições”, você já lançou mais dois livros. Como você faz a publicação?
Haroldo: Quando resolvi publicar os livros, tive que fazer uma produção independente mesmo, coloquei a mão no bolso e gastei. Aliás, gastei não, investi e fiz algumas tiragens. Aí, com o material em mãos, comecei a vender. Em 2012, lancei o “Vida de Gari, que são crônicas do dia a dia do gari, de histórias que ouvia dos colegas, ou histórias que criava eu mesmo sobre situações que poderiam acontecer na rotina de trabalho. Este livro foi muito importante para mim, porque me deu uma visibilidade maior. Dei muitas entrevistas para rádio, TV, matérias de jornal. Ele me deu uma projeção grande.
E no ano passado, lancei “Toda família sambista”, que é sobre a vida entre uma comunidade e a escola de samba do lugar. As histórias são inspiradas naquilo que eu conheço, na minha base, também moro em comunidade com escola de samba, também sou escritor e compositor. As minhas histórias são ficcionais, mas contam histórias que eu conheço.
UOL: A sua profissão é uma fonte de inspiração para você. O que representa ser gari na sua vida?
Haroldo: Ser gari para mim representa praticamente tudo. Eu vou fazer 30 anos na empresa, entrei na função direta de gari, trabalhei por dois anos. Depois fui para o escritório, aí fui fazendo outras coisas. Mas minha vida toda está ligada a esta base, que é o gari. Então, a minha vida toda fiz poesia, música para o gari. Esse universo da limpeza urbana, do gari, é tudo na minha vida, me acompanha desde sempre. O pouco que eu conquistei na vida hoje devo à profissão. Inclusive as histórias que me inspiraram a escrever meus livros e praticamente tudo na minha vida, inclusive na parte profissional, do salário, do sustento da minha família mesmo.
UOL: Qual a postura da população em relação à limpeza urbana da cidade?
Haroldo: É uma cidade que vive um contraste, de uma equipe de limpeza urbana, uma empresa muito eficiente e rápida, com uma população muito pouco consciente da importância de manter a cidade limpa. É uma contradição. O morador quer manter suas casas limpas, mas a rua, que é de todos, ele não se importa. É uma incoerência. Tem ruas secundárias no subúrbio, por exemplo, que as pessoas insistem em jogar entulho. E tem um projeto na Comlurb que recolhe o entulho de dentro da casa da pessoa de graça, que é o Remoção Gratuita. Mas só que tem algumas normas, como colocar o lixo em sacos pequenos, para que o gari possa levantá-lo e jogar no caminhão. Mas as pessoas não querem saber, querem se livrar do entulho que está dentro de casa de qualquer jeito. Aí, jogam para outra parte, que é também dele, que é a rua. Como está tudo sempre limpinho, eficiente, ninguém percebe o trabalho de gari. Aí, quando para um pouquinho, você rapidamente sente falta. Foi possível ver isso muito bem durante a greve.
UOL: O que achou da greve?
Haroldo: Essa greve foi peculiar. Porque tiveram outros períodos em que ficamos recebendo só a inflação, um salário baixíssimo e nunca tinha acontecido esta força e adesão à greve. Acredito que as manifestações que aconteceram em 2013, que mobilizaram muitas pessoas no Rio e no Brasil, foram fonte de inspiração da greve. Essa rapaziada que fez mesmo a greve, que segurou, eles nem eram do sindicato, eles fizeram uma greve na marra, sem base legal, mas ainda assim conduziram a greve, conseguiram, e a gente tem que bater palma. Saíram vitoriosos. Não quer dizer que todo ano vai fazer isso, não é por aí, mas acho que, de uma forma ou de outra, eles conseguiram mostrar para o prefeito a importância do trabalho do gari. E temos que ter melhores salários mesmo.
UOL: Você cita os protestos de 2013 como fonte de inspiração para a greve. Qual a importância, em sua opinião, das manifestações populares?
Haroldo: Acompanhei as manifestações do ano passado. Acho que toda a mobilização é válida e foram movimentos que também se mostraram vitoriosos. Os protestos mostraram a força que as pessoas têm quando estão todas juntas. Porque se a gente deixar, as autoridades fazem o que querem. Aumentam aqui, tiram dali, porque acreditam que ninguém vai notar, ligar, se manifestar. Mas quando as pessoas começam a se mobilizar, eles já começam a dar um passo atrás. O povo tem que acordar e quanto maiores e mais pacíficas forem, melhores. O ruim é o quebra quebra. E você viu que a passagem não aumentou e todo mundo sobreviveu, o governo, as empresas… Então, talvez, não tivesse necessidade daquele aumento. E acho que isso inspirou essa rapaziada que segurou a greve. Quando está todo mundo junto, não tem como.
UOL: Quais as maiores dificuldades da cidade atualmente?
Haroldo: Como gari, para mim, o problema mais sério que tenho contato e está precisando de uma solução é a questão dos moradores de rua. Até para a questão da limpeza urbana mesmo da cidade. Muitas vezes há uma grande dificuldade, é preciso mover um aparato grande de viaturas, tempo, dinheiro para remover as pessoas de certas localidades e estas pessoas são encaminhados para o abrigo, mas logo saem e voltam para as ruas. Você está trabalhando com pessoas. Quando você trabalha com lixo, você vai lá, tira e não tem mais. Com as pessoas, não é assim. Nós precisamos achar a solução para inseri-los em uma vida social normalmente.
Gari Renato Sorriso declara apoio a colegas grevistas
UOL: E o preconceito com os garis, ainda existe?
Haroldo: Sim, existe. O preconceito no caso contra o gari é justamente porque ele é visto como o homem da sujeira, quando, na verdade, ele é o homem da limpeza. E acho que um dos pontos que ajuda a combater o preconceito é justamente o salário. Porque o preconceito em cima do gari é muito pela associação com o subemprego, a pobreza. Antigamente o salário era mesmo muito ruim. Hoje em dia não. A gente ganha a mesma coisa que muitos outros profissionais. E isso mostra que é uma profissão mais valorizada. A motivação da minha geração para entrar na Comlurb já foi outra, de melhorar de vida, de subir dentro da empresa. O preconceito mudou, melhorou bastante. O perfil do gari e da Comlurb mudaram muito para melhor ao longo dos últimos 30 anos. Estou há 29 anos [na empresa] e vi muita coisa mudar. Mas o que não acontece é a gente não limpar. Jamais deixamos de limpar.
Postado por: Bol.com.br
Foto: Júlio César Guimarães/UOL

sexta-feira, 14 de março de 2014

GARI PERCORRE 8 MIL KM PARA PAGAR PROMESSA

Homem caminha carregando cruz há 6 anos para pagar promessa em GO
Pedro Costa, 65, partiu de Pernambuco com destino à cidade de Trindade.
Ele já percorreu a pé 8 mil km para agradecer por cura de doenças.
O gari Pedro Guedes da Costa, 65 anos, já percorreu mais de oito mil quilômetros a pé, carregando uma cruz para pagar uma promessa. O homem partiu de Caruaru, em Pernambuco, e tem como destino o município de Trindade, na Região Metropolitana de Goiânia. Nesta semana, ele passou por Catalão, que fica a cerca de 235 km da cidade religiosa, conhecida como a 'Capital da fé'.
A cruz pesa cerca de 50 kg e está acoplada a um pequeno carrinho com rodízios. Apesar das rodinhas, a trajetória do idoso é árdua. Ele começou a cumprir a promessa há pouco mais de seis anos, quando deixou a cidade natal. “Eu sofria de trombose e osteoporose e já iria direto ou para a cadeira de rodas ou teria a perna cortada pelo médico. Aí fiz essa promessa, para Jesus Cristo, fui curado e estou esse tempo todo na caminhada”, afirmou.
Ao longo do percurso, o gari recolheu pedidos de outras pessoas até o Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade, onde acontece a segunda maior romaria religiosa do país. Cada fita amarrada à cruz simboliza as preces dos fiéis. Ele também carrega um carrinho, onde guarda os seus objetos pessoais.
Em cada cidade que passa, Pedro conta sobre sua promessa e recebe apoio dos moradores locais. Em Catalão não foi diferente e ele pode montar a barraca que usa para dormir na varanda de uma casa. “Onde eu chegou, graças a Deus, o povo me dá apoio. Nas fazendas, a mesma coisa. O que gosto mesmo é de dormir na mata, onde acampo e peço a Deus que mande os anjos me protegerem, aí não tenho medo de bichos. Já vi onça, jacaré, mas não fazem medo”, disse.
As pessoas que ficam sabendo sobre a trajetória do gari se admiram e dizem que essa é uma verdadeira história de fé. “Fiquei muito comovido. Encontrei ele na estrada e parei para conversar. O que ele faz não é para qualquer um, pois está há seis anos na estrada por causa da fé”, disse o motorista Bruno Mendes.
Como o idoso costuma ficar um ou mais dias nas cidades onde descansa, ele não tem uma previsão exata de quando chegará a Trindade. No entanto, acredita que está perto de cumprir a promessa e diz que se sente grato: “Eu não vou desistir, vou chegar lá, se Deus quiser. Quem sofreu mais foi Jesus Cristo. Então, eu vou continuar na minha caminhada”.
Foto: Reprodução/TV Anhanguera

quinta-feira, 13 de março de 2014

CRÔNICA SOBRE A GREVE DOS GARIS

Greve dos garis cariocas foi tapa na cara do Brasil esnobe
Sempre tive o maior respeito pelos garis. São eles que fazem aquilo que você certamente tem nojo: recolher o lixo de uma cidade inteira. Para piorar, somos um dos países mais ‘porcalhões’ do planeta, uma nação desprovida de uma única rua totalmente limpa. É, é isto mesmo. Tente encontrar um lugar sequer sem um papel amassado no chão, uma bituca de cigarro, um palito de sorvete ou qualquer outra coisa jogada por alguém. Não existe. O Brasil é um país imundo. Em vários sentidos, diga-se de passagem...
Pois não é que rolou uma greve dos garis do Rio na semana passada? Justo eles, considerados por grande parte da população como “gente desqualificada profissionalmente” - o que é um tremendo absurdo! -, como se recolher o lixo e tirar das ruas qualquer coisa que as pessoas tenham desprezado fosse um atestado de fracassado. E a turma foi esperta na hora de reivindicar melhores salários e mais benefícios para a sua profissão: escolheu exatamente o final do Carnaval, o evento que melhor representa a total falta de educação e de cidadania do brasileiro. Perfeito!
Não foram poucas as pessoas que ficaram indignadas com esta classe trabalhadora. Tenho certeza que todas elas contribuíram bastante para a imundice que assolou o Rio dias atrás. Inclusive o próprio prefeito da cidade, Eduardo Paes, flagrado pelas câmeras ao jogar um pedaço de sanduíche no chão.
A bronca desta gente tratou os garis como se fossem escravos amotinados dentro de um navio negreiro. O prefeito Eduardo Paes demitiu trezentos garis e ameaçou demitir mais novecentos, uma juíza multou o sindicato da categoria em R$ 50 mil reais por dia e este, por sua vez, tratou de “tirar o seu da reta” ao apregoar pelas mídias que a greve era “coisa de um trezentos aí”.
Foi então que aconteceu o que para alguns seria impensável: os garis saíram em passeata pelas ruas do Rio e foram... aplaudidos! É, isto mesmo. A população da tal “Cidade Maravilhosa” se pôs a bater palmas para aqueles que marchavam pela conquista de um salário minimamente digno. Até então, um gari carioca recebia R$ 803 mensais, mais um ticket de refeição diário de inaceitáveis R$ 12, sem qualquer direito a horas extras – ou seja, trabalhavam nos fins de semana, feriados, Carnaval e Ano Novo de graça!!! – ou qualquer ganho por insalubridade.
No fundo, centenas e centenas de cariocas nas calçadas fizeram questão de manifestar o seu repúdio em relação à desigualdade social decorrente da já enraizada corrupção em todas as esferas do Brasil, principalmente na classe política e também nos sindicatos, cada vez mais cúmplices dos poderosos. Os garis foram os seus “heróis”.
Vendo que a situação iria piorar em velocidade supersônica, o prefeito capitulou e, a partir de agora, cada gari carioca vai ganhar R$ 1.100, mais ticket refeição de R$ 20, direito à hora extra e 40% de insalubridade pelo trabalho que fazem.
Sei que tem gente que acha que os garis são seres invisíveis, mas torço para que até mesmo estas pessoas desprezíveis tenham percebido que tudo isto é um sinal, um fio de esperança. Talvez não estejamos tão insensíveis às humilhações impostas aos menos favorecidos...
Imagem: Latuff 2014

quinta-feira, 6 de março de 2014

GARI DO RAP DE BRASÍLIA

Gari de Brasília usa talento no rap para contar a própria história enquanto trabalha
Os versos improvisados fazem parte da rotina de quem corre 20 quilômetros por dia
Um gari de Brasília ganhou notoriedade entre os colegas pela forma como enfrenta a dura rotina de recolher lixo todos os dias. Aryel Carlos da Silva, de 23 anos, usa o rap para expressar seu talento e contar as experiências de sua própria vida.
Nascido e criado em no Distrito Federal, entre os amigos, Aryel é conhecido pela alegria com que toca o trabalho e a criatividade para o improviso. O colega de trabalho Hamilton José diz que ele manda tão bem no trabalho quanto rap.
— Ele segue o dia do jeito dele. Sempre cantando e trabalhando, mas o serviço ele sempre faz bem feito.
Aryel é pai de dois filhos, trabalha das 19h até as primeiras horas do dia seguinte e corre cerca de 20 quilômetros por dia. Desde cedo teve que enfrentar a dureza da vida de quem não teve muitas oportunidades. Apesar dos desafios da vida difícil, ele consegue transformar a realidade em música. Melhora ainda, em versos improvisados no ritmo do rap.
— Eu também trabalho recolhendo material reciclado na rua para sustentar a família. Se o pobre parar, o pobre não come. Então vou me virando. Então prefiro correr atrás do caminhão do que do camburão né.
Mas o que Aryel quer mesmo é divulgar o próprio talento. Ele já até gravou quatro músicas de forma improvisada na casa de um colega. A que mais faz sucesso é o Rap do Gari. Mas enquanto a vida não sorri para Aryel, ele segue cantando e batalhando por dias melhores.
Foto: Reprodução TV Record

quarta-feira, 5 de março de 2014

MINI GARI NO CARNAVAL DE SANTOS

Mini Gari se junta a time dos coloridos e diverte sambódromo
Erick esteve com fantasia de gari durante o carnaval de Santos, SP.
Criança foi levada pelo tio para os desfiles das escolas de samba.
Uma criança fez parte da equipe dos garis que trabalharam na passarela Dráuzio da Cruz, no segundo dia de desfiles das Escolas de Samba do grupo Especial de Santos, no litoral de São Paulo.
Mas ao invés de recolher o lixo da avenida, o pequeno Erick Aloísio da Silva divertiu a equipe dos trabalhadores. Erick foi trazido pelo tio, Adriano da Silva, que já trabalhou em outros três carnavais.
Segundo ele, a ideia surgiu da tia do garoto que aproveitou um uniforme antigo e produziu a fantasia do garoto. “A tia dele que fez a fantasia dele e como ele não sai muito de casa, trouxemos ele para que ele se divirta um pouco”, explica.
Para ele, esta é uma atração a mais do carnaval santista, além de estar trabalhando mais feliz na presença do sobrinho. “É bem legal ter ele aqui comigo, toda equipe gosta bastante dele e, além disso, ele conhece um pouco mais do trabalho do tio”, comenta.
Cabelo colorido
Desde o primeiro dia de Carnaval de Santos, Adriano da Silva apresenta uma novidade em seu visual. Ele e seu amigo Cristiano de Souza pintaram o cabelo cada dia de uma cor diferente para os desfiles. O cabelo dos dois foi uma das atrações dos dias de desfile em Santos. Ele comenta que a ideia surgiu para que o trabalho fique mais alegre durante as madrugadas de Carnaval. “O motorista do caminhão que sugeriu para gente. Nós gostamos e fizemos para que todo mundo trabalhe mais feliz”, afirma.
Foto: João Paulo de Castro/ G1

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE DE GARI

Piso salarial de R$ 1,2 mil e regulamentação da profissão de gari em pauta na CAS
A regulamentação da atividade de garis e o estabelecimento de um piso salarial de R$ 1.200 mensais.
A regulamentação da atividade de garis e o estabelecimento de um piso salarial de R$ 1.200 mensais para os trabalhadores que exercem atividades de coleta de lixo, limpeza e conservação de áreas públicas deverão ser analisados neste ano pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS).
A garantia de mais direitos para esses profissionais é tema de um substitutivo do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) ao PLS 464/2009, do senador Paulo Paim (PT-RS), e ao PLS 169/2013, do senador Cyro Miranda (PSDB-GO), que foram apensados por tratarem do mesmo assunto.
Além do piso salarial, o projeto redigido por Cristovam estabelece que a jornada de trabalho desses profissionais não poderá ser superior a seis horas diárias e 36 horas semanais, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo.
O texto também determina que as atividades sejam exercidas preferencialmente por trabalhadores que tenham concluído o ensino fundamental e que sejam aprovados em curso especializado de formação profissional ministrado por entidade oficial ou credenciada. Mas o texto garante o exercício das atividades ao trabalhador que atue na profissão na data de entrada em vigor da lei.
“As duas iniciativas são, nesse aspecto, oportunas e bem vindas, dado que representam a essencial definição de um marco legal para o melhoramento das condições de trabalho dessa atividade fundamental da vida em aglomerados urbanos”, argumenta Cristovam.
Mudanças
O projeto de lei apresentado por Paim previa inicialmente, além do piso de R$ 1 mil, reajuste anual com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), pagamento de adicional de insalubridade no “grau máximo” e multa em caso de desrespeito à nova lei.
Em relatório apresentado em outubro do ano passado, Cristovam manteve integralmente a proposta de piso salarial apresentada por Paim, acrescentando apenas a inflação desde o início da tramitação, o que levou ao novo valor de R$ 1.200.
O relator na CAS também definiu que o piso salarial dos trabalhadores de limpeza urbana será reajustado anualmente no mês de janeiro segundo índice definido em convenção ou acordo coletivo. Na ausência de convenção ou acordo, o reajuste se dará pela variação integral do INPC ou outro índice oficial que o substituir.
Insalubridade
Cristovam retirou do texto o item que prevê “grau máximo” no adicional de insalubridade a ser pago aos garis. Entre outros argumentos, ele afirma que esse dispositivo invade competência do Ministério do Trabalho, órgão que deve fixar as condições causadoras de insalubridade.
A proposta apresentada por Cyro Miranda propunha regulamentar o exercício das atividades dos agentes de coleta de resíduos, de limpeza e de conservação de áreas públicas. Cristovam retirou do texto algumas exigências que já são definidas na legislação, como por exemplo, a vedação a trabalho insalubre, perigoso e noturno a menores de 18 anos.
Definição
Para evitar confusão quanto aos profissionais abrangidos pela regulamentação, o senador também suprimiu o termo “gari”, substituindo-o pela seguinte definição: “profissão de agente de coleta de resíduos, de limpeza e de conservação de áreas públicas”.
Entre as atividades que se enquadram nessa categoria profissional, estão listadas no texto a coleta de resíduos domiciliares e industriais, de resíduos sólidos, de serviços de saúde e resíduos coletados nos serviços de limpeza; varrição e conservação de áreas públicas; limpeza de vias públicas e logradouros; acondicionamento de lixo para que seja encaminhado para aterro sanitário e estabelecimentos de tratamento e reciclagem.
Outro projeto
O texto que será examinado em caráter terminativo pela CAS se soma a outra iniciativa que tem como objetivo melhorar as condições dos garis e trabalhadores do setor de limpeza urbana: o PLS 155/2010, também de Paulo Paim. O projeto, que garante aposentadoria especial e adicional de insalubridade para trabalhadores que exerçam atividades de coleta de lixo, seleção de material para reciclagem e varrição de ruas, tem tramitação mais avançada e aguarda inclusão na Ordem do Dia do Plenário.
Fonte e Autor: senado.gov.br

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

GARI DEVOLVE QUASE R$ 5 MIL NO RS

Gari recebe doações após achar e devolver quase R$ 5 mil no RS
Família jogou dinheiro fora por engano e pediu auxílio à empresa de coleta.
Exemplo de honestidade faz internautas arrecadarem doações em site.
Morador de uma residência humilde ao lado de outros cinco familiares em uma região de alta exclusão social de Santa Cruz do Sul, a 156 km de Porto Alegre, um gari decidiu optar pelo caminho da honestidade ao se deparar com R$ 4.990 perdidos. Armazenado em um pote de panetone, o dinheiro foi encontrado e devolvido aos donos na última sexta-feira (10) por Jonathan Rafael dos Santos Soares, 23 anos, quando ele trabalhava em uma central de transbordo de lixo do município. Nesta segunda (13), um mutirão virtual foi iniciado para arrecadar doações e homenageá-lo pela atitude.
Segundo a empresa Conesul, que presta serviços de coleta de lixo na região, os valores foram jogados fora, por engano, pelo filho de uma aposentada, moradora do município de Sinimbu, a 26 km de Santa Cruz do Sul. O dinheiro estaria sendo guardado no pote pela idosa sem o que os familiares soubessem, o que gerou a confusão.
Desesperada, a família procurou a empresa, que solicitou aos funcionários uma varredura para tentar localizar o recipiente em meio a ferros retorcidos por compactadores. “Todos que tentaram desistiram, mas eu decidi seguir procurando. Chovia forte, a água estava gelada, mas pensei: ‘vou achar esse dinheiro’”, contou Jonathan. “Estava de pochete, poderia ter pego para mim, mas decidi entregar. Com certeza a pessoa que perdeu está precisando muito. Sai de lá com o coração mais leve. Ainda mais ao saber que ela era uma senhora”, acrescentou.
De acordo com Jonathan, os proprietários do dinheiro lhe recompensaram com R$ 200. “Nunca havia achado nada de dinheiro. E eu estava determinado a devolver. O que não é meu eu não quero. Lembrei da Bíblia dizendo ‘comerás o teu pão com o suor do teu rosto’”, detalhou.
“As chances de alguém localizar eram muito pequenas. E a reação dele foi de felicidade. É uma pessoa muito humilde. Ele vem de um bairro carente, um ambiente de tráfico e violência. Ele poderia tranquilamente ter dito que não achou”, destacou o coordenador de comunicação da empresa, Cristiano André Machado.
Inciada por um publicitário, a campanha virtual para recompensar o gari tem a meta de arrecadar a mesma quantia devolvida por Jonathan. Um site (http://www10.vakinha.com.br/VaquinhaP.aspx?e=238128#.UtNzy_tG2MI.facebook) foi criado para que internautas possam doar. Até o o início da noite desta segunda-feira, R$ 357 já haviam sido doados e outros R$ 635 estavam pendentes de confirmação.

MURAL DO GARI