Essa é a história sobre um psicólogo que passou oito anos trabalhando como gari para estudar sobre “invisibilidade pública”, uma percepção humana condicionada à divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa. Em 1994, Fernando Braga da Costa era estudante de psicologia na USP quando uma tarefa da disciplina Psicologia Social II exigiu que exercesse, por um dia e ao lado de trabalhadores reais, uma “profissão subalterna e não-qualificada”. Ele escolheu trabalhar ao lado dos garis da própria universidade mas, ao contrário de seus colegas, decidiu levar adiante a experiência. O trabalho começou de forma esporádica mas, aos poucos, foi se tornando mais freqüente. Após alguns meses, pelo menos uma vez por semana Fernando vestia o uniforme e trabalhava como gari. Fernando constatou que a maioria das pessoas não vê os garis, ou melhor, vê mas ignora. Por diversas vezes, pessoas conhecidas, alunos ou professores, passaram por ele, que parava de varrer, e simplesmente não o viram.
TRECHO DO LIVRO: "Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão.
[...]uma certa vez, quando estava trabalhando como gari, tive que passar pelo Instituto de Psicologia da USP – passei pelo térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, pela biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, em frente à lanchonete, e tinha muita gente conhecida. O pessoal passava como se estivesse passando por um poste, uma árvore, um orelhão. Eu fiz todo esse trajeto e ninguém, em absoluto, me viu ou olhou para mim. Eu tive uma sensação muito ruim. O meu corpo tremia como se eu não o dominasse. Fui almoçar e voltei para o trabalho atordoado. Foi naquele momento que senti na pele a coisa da invisibilidade social."
LIVRO: Homens Invisíveis: Relatos de uma Humilhação Social - Fernando Braga da Costa - Editora Globo
TRECHO DO LIVRO: "Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão.
[...]uma certa vez, quando estava trabalhando como gari, tive que passar pelo Instituto de Psicologia da USP – passei pelo térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, pela biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, em frente à lanchonete, e tinha muita gente conhecida. O pessoal passava como se estivesse passando por um poste, uma árvore, um orelhão. Eu fiz todo esse trajeto e ninguém, em absoluto, me viu ou olhou para mim. Eu tive uma sensação muito ruim. O meu corpo tremia como se eu não o dominasse. Fui almoçar e voltei para o trabalho atordoado. Foi naquele momento que senti na pele a coisa da invisibilidade social."
LIVRO: Homens Invisíveis: Relatos de uma Humilhação Social - Fernando Braga da Costa - Editora Globo
Cara, eu não li o livro, mas encontrei a tese dele e estou lendo. É muito profunda e útil. Sei de muitas pesquisas acadêmicas que - no fim das contas - são um fim em si mesmas, não gerando/revertendo nada de útil à sociedade. Mas esse trabalho é muio diferente. Sou da área jurídica e estou pensando/tentando direcionar o tema da invisibilidade social na questão dos direito fundamentais das pessoas, bem como das populações presidiárias. O seu blog é muito bom. Um abraço. Yuri Ferreira - Recife-PE.
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