quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

FILHA FAZ HOMENAGEM A PAIS GARIS

Filha faz homenagem a pais Garis em formatura: ensaio fotográfico
Com orgulho de suas raízes, uma aluna brasileira que sofreu bullying na escola, se formou no Ensino Médio e fez uma linda homenagem aos pais, que são garis.
Vanessa dos Santos, de Quixadá, no interior do Ceará, fez um ensaio fotográfico de término de curso este mês com a mãe, Iracilda, 36 anos, e o pai, Moisés dos Santos, de 45.
O cenário para as fotos da estudante de 18 anos foi o local de trabalho dos pais: as ruas de Quixadá. Junto com o canudo e a beca, ela aparece ao lado dos de Iracilda e Moisés vestidos com uniformes de gari e latas de lixo.
Presente
Vanessa disse ao fotografo Cleyton de Paula que não sabia se teria condições de pagar pelo ensaio e o profissional deu as fotos de presente para a família.
“Que a Vanessa seja inspiração para muitos. Eu dei o pacote de presente e já recebi a recompensa!”, afirmou o fotógrafo.
Ele pegou a estudante e um de seus irmãos mais novos em casa e os levou para o Centro de Quixadá, de surpresa. O resultado do trabalho gerou comentários emocionados nas redes sociais.
Orgulho dos pais
“Sempre tive orgulho dos pais guerreiros que Deus me deu. Sempre admirei a atitude deles, nunca abaixaram a cabeça pra ninguém por que eles sabiam que tinha alguém pra cuidar“, afirmou Vanessa.
E ela enfrentou as piadinhas que ouvia na escola.
“Quando eu fazia o fundamental, meus colegas de turma me chamavam de filha do lixeiro. Me sentia mais forte ainda. Nunca fiquei triste por estarem falando assim comigo. O erro não estava em mim, e sim neles”, disse ao G1.
2 horas à pé
Vanessa estudou no Colégio Coronel Virgílio Távora e fez curso técnico profissionalizante em informática na escola Maria Cavalcante Costa, o Liceu de Quixadá.
A aluna de 18 anos mora com a família no Bairro Monte Alegre e andava 2 horas a pé para chegar às aulas, no Centro da cidade.
Os pais, que pararam de estudar entre o 3° e o 4° ano do ensino fundamental, sempre incentivaram que os cinco filhos fossem além.
Vanessa conta que, devido ao amor entre o casal, eles só trabalham lado a lado. Moisés trabalha como gari há mais de 20 anos e Iracilda há algumas semanas.
Alegria
O pai, Moisés, conta que se sentiu muito feliz e com a surpresa. A realização de formar mais uma filha aumenta ao lembrar das dificuldades que passou para cuidar da família.
Ele passou dois anos morando em Fortaleza, à procura de emprego, enquanto sua esposa e filhos se sustentavam com menos de R$300.
Futuro
Com o ensino médio concluído, Vanessa pretende ingressar no curso de licenciatura de história na Universidade Estadual do Ceará (Uece).
Ele será a primeira da família a cursar o ensino superior.
A jovem aguarda o resultado do Enem e conta que seu desejo inicial era cursar na capital Fortaleza, mas devido às dificuldades financeiras, é mais provável que permaneça em Quixadá e estude no campus da cidade.
Vanessa garante que, caso passe, seus pais serão novamente a inspiração dela nesta nova jornada de estudos.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

CRIANÇA REALIZA SONHO EM CAMINHÃO DE LIXO

Criança doente realiza sonho de circular em caminhão de lixo
Americano de 6 anos sofre de fibrose cística e quer ser gari quando crescer
SACRAMENTO, Estados Unidos - Ethan Dean realizou seu sonho nesta terça-feira. O menino de 6 anos, que tem fronhas com desenhos de caminhões de lixo, além de um brinquedo que imita o veículo, agora sabe como é ser um gari.
A Fundação Make-A-Wish ("Faça um pedido") possibilitou ao menino, que sofre de fibrose cística, circular em um caminhão de lixo no centro de Sacramento, na Califórnia, recolhendo detritos biodegradáveis e recicláveis, como sempre quis. Durante o percurso, diversos moradores da cidade saíram às ruas para saudar Ethan, que vestia uma roupa neón, típica dos garis locais, e uma capa de super-herói.
Questionado por alguém sobre qual teria sido a melhor parte do seu dia até então, o menino não hesitou: "Limpar o lixo".
Quando Ethan visitou a fundação, em fevereiro, ele respondeu a uma série de perguntas: O que você quer ser? Quem você quer conhecer? O que você quer ter? Para onde você quer ir?
Quase todas as respostas tinham a ver com caminhões de lixo, conta Jennifer Stolo, CEO do escritório local da fundação, revelando ainda que a criança quer ser gari quando crescer.
"A gente sabia que seria algo relacionado a caminhões de lixo", disse o pai de Ethan, Ken Dean, aos risos. "Ele assiste aos veículos descendo a rua desde que começou a engatinhar", completou.
Na manhã desta terça-feira, Ethan encontrou, do lado de fora de sua escola, um motorista e lixeiro, que o levou para recolher lixo em cinco locais, antes de o roteiro terminar com uma entrevista coletiva para a imprensa local e almoço.
O menino foi diagnosticado com fibrose cística quando era um bebê. Ele foi submetido a tratamento com oito semanas de idade. A doença, hereditária, causa dificuldades respiratórias e infecções frequentes no aparelho respiratório. A expectativa de vida de alguém que sofre desse mal é de cerca de 40 anos de idade.
Imagem: O Globo - Por Eli Hiller/AP

terça-feira, 26 de julho de 2016

GARI CRIA "PAREDÃO DE CELULAR"

Gari da Paraíba faz sucesso após criar 'paredão de celular' com reciclagem
Vídeos com demonstração já teve mais de 2 milhões de acessos.
Paraibano usou garrafa pet e canos para ampliar som de celular.
Um gari da cidade de Aparecida, no Sertão paraibano, está fazendo sucesso na internet após inventar um “paredão de som” para celulares. A invenção do paraibano é feita com materiais reciclados e consegue ampliar o som do alto falante do aparelho, sem a necessidade de bateria extra ou energia. O vídeo mostrando a invenção já teve mais de 2 milhões de acessos até esta segunda-feira (25).
O criador do amplificador, Giorggio Abrantes, trabalha como gari na cidade de Aparecida há cinco anos e está sempre coletando materiais recicláveis. Em casa, ele fabrica vassouras com garrafas pet e foi com as sobras da produção das vassouras que ele teve a ideia de criar o “paredão de som”, utilizando a parte de cima da garrafa que, ao ser cortada, tem forma de funil.
“Eu peguei um funil desse e coloquei no alto falante do meu celular e percebi que o som aprimorou. Ficou mais alto. Eu pensei, peguei duas conexões [tubos de cano], fiz com dois [funis de garrafa pet], coloquei no celular e o som ficou mais alto. Depois eu fiz com quatro funis” explica o gari. Após perceber que a ideia deu certo, Giorggio levou a invenção para mostrar aos amigos. Um deles filmou a demonstração do “paredão de som” e colocou nas redes sociais.
O vídeo começou a ter centenas de acessos e já ultrapassou a marca das 2 milhões de visualizações. Na cidade, alguns moradores já estão pagando para que o gari fabrique “paredões de celulares” para eles. “Mudou minha vida para melhor. Têm pessoas que me pedem autógrafo”, frisa o gari.
O professor de física Yvaldi Barret, explicou como a invenção e os materiais conseguem ampliar o som. “Colocando os canos e cones, usando garrafa pet, ele criou uma coisa chamada guia de onda. Esse guia canaliza o ar para que a onda possa partir desde o alto falante até a saída do cone, que faz a propagação. Isso acontece porque o som consegue uma massa de ar maior”, explicou o professor, frisando que o mesmo acontece com instrumentos musicais como trompetes e cornetas. O ganho de som é estimado entre 20% e 30%.
Convivendo diariamente com os materiais que encontra na rua, o gari Giorggio Abrantes destaca a importância da reciclagem. “Demora muito tempo para uma garrafa se decompor. Então qualquer forma que a gente achar de fazer alguma coisa com ela já é uma utilidade”, disse ele.
Imagem: JPB - Por Beto Silva

terça-feira, 19 de julho de 2016

SISTEMA DE COLETA MECANIZADA - BIGTAINER

Sistema de coleta mecanizada subterrânea
O equipamento subterrâneo de coleta domiciliar mecanizada traz uma série de vantagens para a comunidade. A iniciativa é da Secretaria de Serviços, por meio da Autoridade Municipal de Limpeza Urbana (Amlurb) e da Loga — concessionária atuante na região Noroeste de São Paulo.
Ainda em fase de testes, o sistema funciona da seguinte maneira: o munícipe leva o resíduo devidamente ensacado e abre a tampa do marco coletor com um cartão magnético que receberá da empresa. Depois de depositar, fecha a tampa manualmente. O contêiner tem 20 metros cúbicos e capacidade para armazenar cerca de dez toneladas de resíduos, como orgânicos (alimentos) e embalagens diversas (desmontadas).
Não podem ser descartados pneus, materiais de construção, cigarros acesos e outros objetos em chamas, móveis e podas, produtos resultados de queima, pilhas e baterias e substâncias tóxicas, como tintas, derivados de petróleo e ácidos.
Entre os diversos benefícios apresentados pelo sistema está o fim do mau cheiro decorrente da exposição dos resíduos nas calçadas; a melhoria do visual da comunidade; a diminuição do risco de entupimento de bueiros; e a possibilidade de o morador depositar os sacos a qualquer hora do dia.
O projeto piloto, ainda em fase inicial, será monitorado e passível de ajustes, que podem abranger quantidade de contêiner, adequação de localização, entre outros fatores. O apoio da população é essencial, principalmente em relação aos primeiros meses de instalação e na manutenção.
Os contêineres subterrâneos são metálicos. As caixas de descartes que ficam na superfície são fabricados em aço galvanizado, com pintura antipichação e antiferrugem, e durabilidade de até 10 anos. As aberturas para descarte dos resíduos são acionados a partir de cartão magnético, privado e intransferível, cadastrados pela concessionária junto aos moradores/usuários contemplados pela coleta mecanizada, com sistema subterrâneo. Os marcos coletores possuem total acessibilidade e permitem que pessoas em cadeira de rodas, por exemplo, consigam fazer o descarte com facilidade. Outro recurso que o sistema possui são sinais sonoros e visuais durante a troca de contêineres para mais segurança dos munícipes.
A concessionária, a partir de sistema inteligente de GPRS (transmissão de dados por internet) e cartões credenciados junto aos munícipes, irá monitorar os descartes dos usuários com sensores/chips. Com esta tecnologia é possível monitorar todo o uso do recipiente e do cidadão, como quantidade depositada por cada morador e horários em que o equipamento é acionado. Além disso, o sistema permite saber o volume que o contêiner apresenta, indica quebras, facilitando a manutenção periódica.
Para a troca do contêiner, o motorista aciona o sistema que eleva, ao nível da calçada, a caixa compactadora por uma espécie de elevador. O caminhão roll on roll off, específico para coleta de contêiner Bigtainer; a partir de um guincho faz o engate na caixa da superfície que é levada para cima do caminhão, ocorrendo a troca por um contêiner limpo e higienizado no local. A troca ocorre sempre que o Bigtainer alcança a capacidade programada pela concessionária, que monitora eletronicamente o sistema.
Produção e Imagem: Oslaim Brito

terça-feira, 12 de julho de 2016

GARI ABANDONA EMPREGO PRA VIRAR CANTOR

Gari abandona emprego para realizar sonho de ser cantor no ES
Vídeo dele cantando vestido de gari foi publicado na web e fez sucesso.
Carlinhos Lemos já está gravando CD com músicas românticas.
O gari Antônio Carlos Lemos, de 22 anos, deixou as ruas para subir aos palcos como o cantor 'Carlinhos Lemos'. O jovem sempre trabalhava cantado pelas ruas de Linhares, no Norte do Espírito Santo, e chamava a atenção de quem passava por ele.
Há um mês, um vídeo dele cantando, vestido de gari, foi publicado nas redes sociais e fez sucesso. Por isso, Antônio Carlos resolveu abandonar o emprego e começou uma rotina nova dentro de um estúdio para gravar um CD com músicas românticas.
“Neste dia eu estava cantando e um rapaz me filmou, postou numa rede social de São Mateus e virou um sucesso”, contou o gari cantor.
Antônio Carlos trabalhou como gari durante 10 meses e durante o trabalho escrevia as próprias músicas.
“Todo dia é exaustivo e cansativo. A gente canta para ver se o tempo passa mais rápido“, contou.
Gravação de CD
O CD que está sendo gravado vai ser lançado em agosto e já tem shows marcados com o nome artístico de Carlinhos Lemos.
“São músicas feitas trabalhando sobre o serviço de gari ser cansativo, sol quente em cima da gente. Fiz as músicas com os amigos do trabalho para animar e para brincar. O que está na atualidade estou pegando e fazendo música em cima”, explicou.
Sonho
Ele contou que desde criança gostava de cantar, mas às vezes era impedido. “Com 12 anos de idade eu não podia tocar nas casa de shows e era tirado dos palcos, era uma coisa bem frustante pra mim”, lembrou.
Agora, o ex-gari quer realizar o sonho de infância. “Quase que esse desejo de cantar e tocar se apagou, o sonho estava guardado e reascendeu. Agora vou tentar, vai dar certo, se Deus quiser”, afirmou Carlinhos Lemos.
Imagem: Foto reprodução TV Gazeta

quarta-feira, 8 de junho de 2016

GARIS RECEBEM TREINAMENTO PARA SOCORRER VÍTIMAS

Garis de BH recebem treinamento para socorrer vítimas de ataque cardíaco
Pela importância do trabalho que desempenham e pelo fato de manter contato contínuo com a população, 40 garis da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) passaram por um treinamento voltado para o atendimento às vítimas de parada cardíaca súbita. A capacitação foi realizada na última semana, na Gerência de Limpeza Urbana Centro-Sul, no bairro Floresta, região Centro-Sul da Capital.
O curso de Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP) é uma parceria entre a Sociedade Mineira de Pediatria, os estudantes da Liga Acadêmica de Simulação em Saúde (Lass) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a American Heart Association (AHA).
Foram demonstradas, na prática, atitudes simples que, realizadas corretamente, em poucos minutos poderão salvar vidas. Uma das premissas da capacitação defende que a chance de sobrevivência da vítima poderá triplicar se a execução de RCP for iniciada de maneira certa e rápida mesmo por alguém que não seja um profissional de saúde. Cada minuto de atraso no atendimento à vítima de parada cardiorrespiratória reduz a possibilidade de sobrevivência em 10%.
Os instrutores dos exercícios são alunos de Enfermagem e Medicina da Lass, coordenados por Monalisa Gresta, professora convidada da Faculdade de Medicina da UFMG e do Laboratório de Simulação da universidade. Segundo Monalisa, a Sociedade Mineira de Pediatria desempenha papel significativo nesse processo, por criar condições favoráveis para que uma grande quantidade de leigos receba instruções sobre primeiros socorros.
Técnica em Enfermagem do Trabalho na SLU, Valdesita Gomes de Souza adverte sobre um número preocupante: cerca de 90% das vítimas de parada cardíaca morrem antes de chegar ao hospital. “Diante disso, o atendimento precoce e correto é fundamental para livrar uma pessoa da morte”, enfatizou a técnica.
Reencontro
Gari da SLU, Gileadi Manassés Pereira, que hoje trabalha na Gerência Regional de Limpeza Urbana Pampulha, comprovou a importância de conhecer técnicas de atendimento a uma vítima de engasgo quando salvou de uma parada respiratória um bebê de um mês de idade em 2014. A atitude heroica do coletor de resíduos teve resultado positivo graças às habilidades adquiridas em um curso de bombeiro civil ministrado pela Academia de Bombeiros Civis de Minas Gerais.
No treinamento, Gileadi reencontrou a criança e sua mãe, Ângela de Oliveira Gonçalves de Melo, e relembrou os momentos de tensão e alívio vividos naquela tarde de 3 de novembro, no bairro Jardim Europa, na região de Venda Nova.
Na vida real
Maria Padovani, estudante do 4º período de Medicina da UFMG, ressaltou a importância de vivenciar situações médicas além do ambiente acadêmico. “A Lass nos proporciona trabalhar essa prática e permite que todos estejam preparados no momento de ajudar ao próximo”, avaliou.
Para Igor Saint’Clair, estudante de Medicina da UFMG e integrante da Lass, é gratificante a oportunidade de transmitir informações relevantes e que nem sempre são repassadas com frequência à sociedade. “É comum alguns conhecimentos ficarem restritos aos profissionais de saúde, porém, além da massagem cardíaca inicial, é indispensável acionar o serviço de emergência para que o salvamento seja completo”, alerta.
Qualificados
Os garis Marcos Antônio Teixeira, Vera Lúcia Souza Lopes e Gelson dos Santos Oliveira consideraram o curso proveitoso, de fácil compreensão, e asseguraram que a iniciativa despertou o interesse e o engajamento de todos os colegas. A gari de varrição Ione Lima do Nascimento, há 26 anos na SLU, garantiu que, a partir das instruções recebidas, não ficará indiferente diante de um imprevisto. “Prestei bastante atenção às técnicas ensinadas e me sinto preparada e com coragem para ajudar alguém que esteja sofrendo uma parada cardiorrespiratória”, comentou.
Procedimentos essenciais
  • Aborde o indivíduo e verifique se ele está inconsciente
  • Ligue para o 192 (Samu) ou 193 (Bombeiros) ou peça para alguém fazer isso
  • Deite a vítima no chão, em lugar firme e seguro, com a barriga para cima, antes de iniciar a massagem cardíaca
  • Apoie as mãos entrelaçadas, no peito da pessoa, entre os mamilos, em cima do coração
  • Faça duas compressões por segundo até que o coração da vítima volte a bater, ou até a chegada da ambulância
  • Voltando à consciência, coloque a vítima na posição lateral de segurança, até a vinda do socorro médico.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

GARIS DEVOLVEM INGRESSO DA COPA

Garis devolvem ingresso encontrado no chão e são convidados para jogo
Tenaz é o nome do objeto usado pelos garis para espetar e recolher o lixo jogado nas ruas. Tenacidade foi o que teve Valdir Tavares ao encontrar um ingresso da Copa do Mundo espetado em seu instrumento de trabalho, na semana passada.
Sereno, ele fez o que aprendeu com o pai, durante a infância. “Eu devolvi, como devolveria qualquer coisa que não fosse minha. Nem prestei atenção no valor. Não era uma opção, é uma questão de caráter”, conta o gari, ainda sem saber da surpresa que lhe aguarda.
Ao encontrar o ingresso, preso ao tenaz, Valdir não fazia ideia do que se tratava aquele pedaço de papel com dizeres em uma língua estranha. “Eu achei que era um papelão qualquer, um lixo comum. Vi uns escritos em inglês e resolvi perguntar o que era”. O alvo dos questionamentos foi Nilton Rodrigo dos Santos, colega de trabalho, que na hora percebeu do que se tratava. “Reconheci o ingresso da Copa e logo ficamos preocupados em encontrar o dono. Em nenhum momento passou pela nossa cabeça ficar com o bilhete”.
“Um cara chegou aqui assustado, avisando que tinha perdido o ingresso. Pensei que ia ser muito complicado encontrar, mas, pouco depois, apareceu o Valdir dizendo que tinha encontrado. Ele é um exemplo de cidadão de bem, íntegro e ético”, conta Aparício Silva Neto, voluntário da FIFA, sobre a postura do gari. Desnecessário dizer que o dono do ingresso não se conteve em euforia ao saber que as entradas haviam sido encontradas e devolvidas.
Valdir e Nilton são funcionários da Estre-Cavo, empresa terceirizada que presta serviços de limpeza para a Prefeitura de Curitiba. Durante a Copa a missão deles é varrer e recolher o lixo do entorno da Arena da Baixada. “Hoje eles não vão precisar se preocupar com o lixo. Depois da atitude que tiveram, resolvemos liberá-los. Na verdade, isso deveria ser regra, mas hoje em dia é exceção. Eles pensaram no próximo e isso é muito positivo”, afirma a analista de comunicação da empresa, Daniela Leme de Oliveira.
Ao saber do gesto da dupla de garis, a FIFA resolveu presenteá-los com dois ingressos para o jogo entre Argélia e Rússia, na tarde desta quinta-feira (26). A notícia veio momentos antes da partida, em frente ao estádio. “Eu não imaginava ganhar esse ingresso, estou muito emocionado. Só consigo lembrar do meu filho, que é tudo pra mim”, exalta um incrédulo Valdir. “Era meu sonho de criança, ver um jogo de Copa do Mundo, nunca vou esquecer esse momento”, conta Nilton, realizado.
Torcedores russos, argelinos e brasileiros se encantaram pela história dos garis. “Isso é bom para a imagem do país, é uma atitude linda, uma questão de honestidade acima de tudo”, explica a turista catarinense Edna de Oliveira. A verdade é que, ao não fazerem mais do que a obrigação, Valdir e Nilton deram uma prova inquestionável de caráter. Algo tão importante quanto raro nos dias de hoje.
Imagem: Jaelson Lucas/SMCS

domingo, 15 de junho de 2014

HOLANDÊS GANHA UNIFORME DE GARI

Holandês ganha uniforme de gari do Rio e o adota em goleada na estreia
Após pedir roupa para conhecido que limpa porta do prédio em que trabalha e até oferecer dinheiro, Jaspen recebeu presente nesta sexta-feira pela manhã
Pouco antes da delegação da Holanda chegar no hotel em que está hospedada no Rio de Janeiro, um holandês chamou a atenção ao chegar no local com uma camisa da Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza) do Rio de Janeiro amarrada no pescoço. Há seis meses na cidade e com a proximidade da Copa do Mundo, ele viu o uniforme dos garis nas ruas e resolveu usá-lo na abertura do Mundial. Porém, tentou comprar e não conseguiu.
Como a camisa não vende, Jasper resolveu pedir para um amigo que limpa a portaria do prédio da empresa em que trabalha. Mesmo sem falar português, ele insistiu por duas semanas e chegou a oferecer dinheiro pela roupa, mas não teve sucesso. Logo no dia da estreia da Laranja na competição, o amigo gari chegou com um uniforme novo, ainda no plástico, e o presenteou. Após o fim do expediente, ele não largou a roupa nova. Assistiu ao jogo com ela e foi receber a seleção com a camisa laranja.
- Fiquei um tempo pedindo. É laranja, como a camisa da Holanda. Então resolvi usar, gostei dela. Deu sorte - conta.
Sobre a goleada por 5 a 1 sobre a Espanha na Arena Fonte Nova, em Salvador, Jaspen garante que foi a vingança da derrota na final do último Mundial, que para ele ainda estava entalada na garganta.
- Foi um tapa na cara deles, ainda não engolimos o segundo lugar na Copa do Mundo da África do Sul. O quarto gol foi um grande momento, o quinto nem se fala - comemorou, acompanhado do compatriota Timi, e da brasileira Juliana, que também torceu para a Holanda.
Fonte: GloboEsporte.com - http://globoesporte.globo.com/futebol/selecoes/holanda/noticia/2014/06/holandes-ganha-uniforme-de-gari-do-rio-e-o-adota-em-goleada-na-espanha.html - Por Raphael Bózeo
Imagem: Raphael Bózeo

sexta-feira, 13 de junho de 2014

GARIS ANIMAM CENTRO DE TRANSMISSÃO DA COPA

Torcida da limpeza: Garis animam IBC e fazem a festa com vitória do Brasil
Turma de laranja fez a festa durante o jogo do Brasil e chamou atenção em um dos principais pavilhões do centro de imprensa da Copa, no Rio de Janeiro
Enquanto muitos brasileiros estavam de folga, assistindo ao jogo do Brasil com suas famílias, outros torcedores não deixaram de trabalhar na hora do duelo contra a Croácia, na abertura da Copa do Mundo, nesta quinta-feira. O gari Rogério Manhaes, de 47 anos, é um exemplo. Ele saiu de casa cedo, em Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro, para uma jornada de 12 horas no IBC, o centro internacional de transmissão. Como o local reúne a imprensa de todo o mundo e tem televisores espalhados por todos os cantos, a turma conseguiu dar uma espiada no jogo e roubou a cena. Os funcionários da limpeza comandou a torcida pela Seleção no local e chamou atenção dos estrangeiros durante a vitória brasileira.
O grupo conta que teve autorização para dar uma paradinha na hora do jogo. A turma não perdeu a animação nem mesmo quando viu que a TV escolhida para "espiar" o jogo estava sem áudio.
- Somos cariocas e brasileiros, não perdemos a animação nunca - disse Rogério, que usava a camisa do Brasil por baixo do uniforme.
Nem mesmo o gol de Marcelo, que colocou a Croácia na frente, desanimou. Confiante na vitória, a turma da limpeza se manteve firme na torcida e vibrou muito quando viu o Brasil empatar e virar, com Neymar, e ampliar a vantagem, com Oscar. Os mais exaltados pulavam e corriam pelo pavilhão.
Depois da vitória por 3 a 1, o trabalho seguiu ainda com mais alegria. O gari, que trabalha há 14 anos na função, tratou com naturalidade o fato de ter de estar no batente na hora do jogo do Brasil e disse que vai entender se o mesmo acontecer no dia da final da Copa do Mundo, que será no Rio de Janeiro.
- A gente faz de tudo pelo nosso trabalho, é nossa obrigação - afirmou, feliz com a oportunidade de trabalhar em um local que reúne pessoas de todo mundo, o que considera uma oportunidade fascinante.
O Brasil volta a jogar na próxima terça-feira, em Fortaleza, na Arena Castelão, às 16h (horário de Brasília) onde enfrenta o México.
Imagem: Bernardo Eyng

segunda-feira, 24 de março de 2014

SUGISMUNDOS ASSUMIDOS

Para o psicólogo Wadson Gama, infelizmente é fato que alguns brasileiros ainda tratam mal seus colaboradores, sejam eles quem for, e a situação fica ainda mais crítica quando se trata de trabalhadores como garis e domésticas
Goiânia já não é mais a décima, mas sim a nona cidade mais desigual do mundo e a primeira no Brasil segundo um relatório apresentado na abertura do V Fórum Urbano Mundial da Organização das Nações Unidas (ONU) no Rio de Janeiro, a informação é do portal Jus Brasil. A distinção entre as classes sociais de maneira tão exagerada só aumenta as pontes que poderiam ligar as pessoas umas as outras, sejam elas pobres ou ricas. O tratamento dado às pessoas que hoje cuidam do nosso bem-estar em comum, ou seja, a limpeza seja dentro da sua casa ou das ruas é péssimo. A condição e relato desses colaboradores demonstram que cada dia mais alguns brasileiros se prendem às coisas e maltratam as pessoas.
Como você trata seu lixo? Comece por aí, o que você acha de uma pessoa que tem responsabilidade social e ambiental de separar seu lixo doméstico ou comercial, ou até mesmo jogar o papel no chão? De acordo com relatos dos profissionais da área, na rua é notável a falta de consciência de algumas pessoas para com o trabalho do próximo.
Para o coordenador de área da Comurg de Goiânia, Walonir Ferreira Narciso, a desculpa de jogar lixo no chão para não tirar o emprego dos garis é furada. Ele explica que, hoje, em Goiânia a maior parte do lixo recolhido é do que eles chamam de lixo orgânico, ou seja, folhas, galhos e dejetos das muitas árvores que temos na capital. O lixo branco, que seria esse que alguns jogam nas ruas e demais locais públicos, representa uma parte pequena do trabalho dessas pessoas, apesar de ainda incomodar. “Se gasta muito com limpeza na Capital, essa desculpa não cola. Ter uma cidade arborizada tem um preço, e os garis trabalham para que isso não se torne um empecilho”, diz.
Escravocrata
Wadsom Gama é presidente do Conselho Regional de Psicologia, mestre em Psicologia da Saúde e especialista em Psicologia Social, para ele infelizmente é fato que alguns brasileiros ainda tratam mal seus colaboradores, sejam eles quem for, e a situação fica ainda mais crítica quando se trata de trabalhadores como garis e domésticas. “É sim uma questão cultural a relação de emprego que o brasileiro tem, é uma visão escravocrata em que o subordinado não tem direito sobre si mesmo, mas felizmente já existem leis para amparar essas pessoas”, explica. Ele ressalta que um bom exemplo em relação às empregadas domésticas que são contratadas para fazer serviços de limpeza e às vezes alguns outros trabalhos desta área, mas tem que pegar até o copo d’água para a patroa. “Não é isso que deve acontecer, está claro, ela é paga para fazer a faxina, cozinhar, enfim, não para servir”, ressalta o psicólogo.
Indivíduo invisível
Ele ressalta que, na coletividade, em algumas profissões o uniforme torna o indivíduo invisível aos olhos de algumas pessoas, ele cita o livro Homens invisíveis: relatos de uma humilhação social (Editora Globo, 2004), do psicólogo Fernando Braga da Costa. “Em um relato, o escritor fala quanto à cegueira social para com os garis, quando uniformizados. Essas pessoas são tratadas como se fossem obrigadas a se submeterem, o que não é verdade. Tal quadro não se resolve apenas com educação nas escolas, mas principalmente em casa, com pais e mães sendo o exemplo, seja com o gari ou no trânsito, onde quer que seja, respeitar as pessoas!”, diz Wadson.
Para Wadson, a falta de respeito também pode ser vista de maneira mais abrangente e cotidiana graças ao surgimento das mídias digitais, a notícia mostra o que acontece no dia a dia. “Diferente do que acontecia há tempos, então talvez antes não víssemos tanto esses casos por não chegarem até nós como hoje”, ressalta. Ele fala que o ideal seria que houvesse uma reflexão coletiva, e criar então uma vida em comunidade com respeite a individualidade do outro, seja ele quem for: “Temos que salvar nosso próprio mundo começando com nós mesmos”, diz.
Mau costume
Jogar lixo na rua é algo que afeta toda sociedade, cedo ou tarde. Esses dejetos se acumulam nas bocas-de-lobo e causam o caos que, por vezes, é percebido na cidade, durante as chuvas há alagamento em vários pontos em Goiânia. “Trabalho com um grupo de senhoras e elas contam muitos fatos de como são maltratadas todos os dias, por exemplo, dentro do ônibus, mas isso é culpa não só de quem está cometendo a falta de respeito, mas também do sistema que coloca as pessoas em uma situação de calamidade, onde não há outra saída e todos estão mal. Mas obviamente ressalto que explica e, não justifica a ação”, esclarece Wadsom. Ele cita que é possível mudar isso, participando mais dos conselhos municipais e mostrando o seu ponto de vista.
Elizete Alves de Borges, 49, trabalhou como diarista durante 20 anos, hoje, é agente de serviços gerais em uma empresa terceirizada. Ela conta que, em ambas as experiências, nunca passou por nenhum tipo de constrangimento ou mal-estar por sua profissão. “Na verdade eu nunca sofri com preconceito, o que realmente existe de fato são algumas pessoas que são um pouco desaforadas, e querem que você a sirva e isso não existe”, explica. Elizete lembra que não está na profissão por opção, mas tudo o que faz é com amor, portanto, faz bem feito. “Quem não tem estudo acaba optando por esse tipo de emprego, mas eu faço de bom coração. Às vezes fico indignada quando abusam do nosso trabalho, e a gente releva. Já trabalhei para todo tipo de gente, pobre, rico, casais, solteiros. São muitos anos de experiência”, diz.
O gari Agnaldo dos Santos Silva, 39, trabalha nessa profissão há oito anos, antes disso era funcionário em uma confecção de roupas. “Amo o que eu faço hoje, não reclamo em hora nenhuma. Infelizmente em Goiânia, nas ruas, que é onde eu trabalho, tem pessoas sem consciência. Elas veem que estamos varrendo e jogam o lixo no chão na sua frente”, conta. Ele explica que quando iniciou na profissão algumas pessoas, mesmo que da família, pareciam ter nojo, pelo simples fato de ele varrer as ruas da cidade, trabalho digno que trada do bem estar comum da sociedade. ‘As pessoas falavam - Nossa você é gari? Varredor de rua?’ Eu nunca escondi, claro, pelo contrário, defendo a classe com orgulho. É um emprego como qualquer outro, prefiro isso a ficar como outros que vão para o caminho errado, prefiro trabalhar honestamente, isso é meu ganha pão”, ressalta com orgulho.
Preconceito
Para Walonir Ferreira Narciso, os garis são bem tratados pela população nos dias de hoje, tendo em vista o que acontecia no passado quando ele mesmo tinha sua lida diária varrendo as ruas da capital. “Eu tenho 31 anos de empresa, quando chegava a algumas lojas era descriminado por minha profissão. Há anos eu ouvia casos de pessoas que se um gari pedisse um copo d’agua e ela oferecesse, jogava aquele copo que ele utilizou no lixo. O preconceito melhorou muito, mas ainda existe”, cita Walonir.
Para as mulheres que trabalham como gari, as coisas não são diferentes, Silvana Trajano dos Santos, 45, trabalha na área há cinco anos e conta uma história interessante sobre como um uniforme faz, sim, toda a diferença. “Meu filho é engenheiro civil na Caixa Econômica Federal, e acaba de montar um bom apartamento para ele em um setor nobre de Goiânia, então queria presenteá-lo com algumas toalhas e fui até uma loja de enxovais uniformizada. Chegando, eu pedi a vendedora a melhor toalha que ela tivesse, independente do preço, e ela insistia em me mostrar as da promoção, acabou que eu nem comprei, fiquei perplexa com aquilo”, diz. Silvana relata ainda que dias depois voltou na mesma loja, desta vez sem uniforme, o tratamento foi completamente diferente, conseguiu, enfim, presentear o filho.
Apesar dos casos de preconceito com a categoria, Silvana esclarece que há pessoas de boa índole e consciência, as que respeitam e tratam bem os garis. “As pessoas da minha família e círculo de amizade são cultas e não tenho problemas de preconceito quanto a elas”, explica.
Fonte: Diário da Manhã - Goiânia/GO - http://www.dm.com.br/texto/170731 por Nayara Reis

segunda-feira, 17 de março de 2014

GARI VIRA ANJO

Gari com 'asas de anjo' é flagrado recolhendo lixo no DF
Registro foi feito por jornalista que mora na quadra 40 do Guará II.
Leitor diz que equipe costuma ter ideias criativas durante o trabalho.
A criatividade de um gari que trabalhava recolhendo o lixo orgânico na noite deste sábado (15) chamou a atenção de moradores da quadra 40 do Pólo de Modas do Guará II, no Distrito Federal. O homem usava asas semelhantes às de anjo junto ao uniforme convencional.
Responsável pelo registro, o jornalista Rafael Nunes Rodrigues, de 22 anos, conta que não é a primeira vez que a equipe fez algo parecido. “Eles cantam, às vezes usam perucas e fantasias criativas”, disse.
O rapaz aprovou a ideia. “Acho que, com isso, conseguem chamar a atenção para eles de um jeito positivo. Infelizmente, já presenciei muita gente tratando mal, pedindo para sair logo ou reclamando do barulho."
O jovem afirma que notou a situação depois que uma mulher que passeava com um cachorro pediu para o gari posar para uma foto. Rodrigues, que terminou a faculdade apresentando um trabalho sobre a rotina da categoria, com o título "Homens invisíveis: Relato de Profissionais da Limpeza Urbana”, decidiu imitá-la.
“Muitas pessoas não tem consciência do trabalho que eles fazem, de como é importante e dos riscos que eles correm. Eu acho que é um jeito de mostrar isso, mas também de pedir respeito, de uma coisa mais agradável, mais divertida, arrancar o sorriso das pessoas que olham e acham aquilo legal.”
Foto: Rafael Nunes Rodrigues/VC no G1 - Internauta, Guará/DF

domingo, 16 de março de 2014

GARI ESCRITOR DE 3 LIVROS

Gari escritor de 3 livros crê que greve foi inspirada nos protestos de 2013
Haroldo César já dedicou mais de metade da sua vida à profissão de gari. Aos 51 anos, a ocupação, que já exerce há 29, não é apenas fonte do seu salário, mas também inspiração para as histórias e crônicas que conta em seus livros. Desde 2008, ele já lançou três obras, todas de forma independente.
Em entrevista exclusiva ao UOL, o carioca do Engenho da Rainha, bairro do subúrbio, comenta sua paixão pela escrita, que começou em um bar perto de casa, onde se reunia para compor sambas com amigos. E a importância da sua profissão, responsável por, segundo ele, “tudo” que conquistou.
“Infelizmente, o gari é muito mais visto e lembrado na sua ausência. Quando está tudo limpinho, ninguém percebe”.
Para Haroldo, as manifestações de 2013 foram grande fonte de inspiração para os profissionais que organizaram a greve durante o Carnaval deste ano, quando a cidade ficou mergulhada em lixo depois que os garis se recusaram a trabalhar, reivindicando aumento salarial.
Compositor de samba, escritor e roteirista, Haroldo ainda tem planos de lançar uma peça de teatro e mais um livro em breve. E continuará como gari, contribuindo com a sua parte para a limpeza da cidade.
Leia a íntegra da entrevista:
UOL: Como surgiu a vontade de escrever um livro?
Haroldo César: Foi uma coisa inesperada, apesar de eu ser um amante da arte e da cultura. A minha origem na arte, na verdade, é na composição de samba. Durante muito tempo tive uma birosquinha perto de casa, onde reunia os amigos para fazer samba. O nosso sonho, na época, era gravar um disco. Mas, assim que conseguimos dinheiro para fazer, houve uma dissidência e cada um seguiu o seu caminho. Eu, que não sou músico nem cantor, fiquei perdido. E aí, fiquei naquela, “e agora, faço o quê?”.
Nesta mesma época minha mulher comprou um computador e comecei a escrever sobre as duas coisas que mais conheço: composição de samba e vida do gari. E aí fui escrevendo, escrevendo e, como não tinha mais aquele compromisso com o samba, consegui terminar o livro “Garimpando Composições” em 2008.
UOL: Além de “Garimpando Composições”, você já lançou mais dois livros. Como você faz a publicação?
Haroldo: Quando resolvi publicar os livros, tive que fazer uma produção independente mesmo, coloquei a mão no bolso e gastei. Aliás, gastei não, investi e fiz algumas tiragens. Aí, com o material em mãos, comecei a vender. Em 2012, lancei o “Vida de Gari, que são crônicas do dia a dia do gari, de histórias que ouvia dos colegas, ou histórias que criava eu mesmo sobre situações que poderiam acontecer na rotina de trabalho. Este livro foi muito importante para mim, porque me deu uma visibilidade maior. Dei muitas entrevistas para rádio, TV, matérias de jornal. Ele me deu uma projeção grande.
E no ano passado, lancei “Toda família sambista”, que é sobre a vida entre uma comunidade e a escola de samba do lugar. As histórias são inspiradas naquilo que eu conheço, na minha base, também moro em comunidade com escola de samba, também sou escritor e compositor. As minhas histórias são ficcionais, mas contam histórias que eu conheço.
UOL: A sua profissão é uma fonte de inspiração para você. O que representa ser gari na sua vida?
Haroldo: Ser gari para mim representa praticamente tudo. Eu vou fazer 30 anos na empresa, entrei na função direta de gari, trabalhei por dois anos. Depois fui para o escritório, aí fui fazendo outras coisas. Mas minha vida toda está ligada a esta base, que é o gari. Então, a minha vida toda fiz poesia, música para o gari. Esse universo da limpeza urbana, do gari, é tudo na minha vida, me acompanha desde sempre. O pouco que eu conquistei na vida hoje devo à profissão. Inclusive as histórias que me inspiraram a escrever meus livros e praticamente tudo na minha vida, inclusive na parte profissional, do salário, do sustento da minha família mesmo.
UOL: Qual a postura da população em relação à limpeza urbana da cidade?
Haroldo: É uma cidade que vive um contraste, de uma equipe de limpeza urbana, uma empresa muito eficiente e rápida, com uma população muito pouco consciente da importância de manter a cidade limpa. É uma contradição. O morador quer manter suas casas limpas, mas a rua, que é de todos, ele não se importa. É uma incoerência. Tem ruas secundárias no subúrbio, por exemplo, que as pessoas insistem em jogar entulho. E tem um projeto na Comlurb que recolhe o entulho de dentro da casa da pessoa de graça, que é o Remoção Gratuita. Mas só que tem algumas normas, como colocar o lixo em sacos pequenos, para que o gari possa levantá-lo e jogar no caminhão. Mas as pessoas não querem saber, querem se livrar do entulho que está dentro de casa de qualquer jeito. Aí, jogam para outra parte, que é também dele, que é a rua. Como está tudo sempre limpinho, eficiente, ninguém percebe o trabalho de gari. Aí, quando para um pouquinho, você rapidamente sente falta. Foi possível ver isso muito bem durante a greve.
UOL: O que achou da greve?
Haroldo: Essa greve foi peculiar. Porque tiveram outros períodos em que ficamos recebendo só a inflação, um salário baixíssimo e nunca tinha acontecido esta força e adesão à greve. Acredito que as manifestações que aconteceram em 2013, que mobilizaram muitas pessoas no Rio e no Brasil, foram fonte de inspiração da greve. Essa rapaziada que fez mesmo a greve, que segurou, eles nem eram do sindicato, eles fizeram uma greve na marra, sem base legal, mas ainda assim conduziram a greve, conseguiram, e a gente tem que bater palma. Saíram vitoriosos. Não quer dizer que todo ano vai fazer isso, não é por aí, mas acho que, de uma forma ou de outra, eles conseguiram mostrar para o prefeito a importância do trabalho do gari. E temos que ter melhores salários mesmo.
UOL: Você cita os protestos de 2013 como fonte de inspiração para a greve. Qual a importância, em sua opinião, das manifestações populares?
Haroldo: Acompanhei as manifestações do ano passado. Acho que toda a mobilização é válida e foram movimentos que também se mostraram vitoriosos. Os protestos mostraram a força que as pessoas têm quando estão todas juntas. Porque se a gente deixar, as autoridades fazem o que querem. Aumentam aqui, tiram dali, porque acreditam que ninguém vai notar, ligar, se manifestar. Mas quando as pessoas começam a se mobilizar, eles já começam a dar um passo atrás. O povo tem que acordar e quanto maiores e mais pacíficas forem, melhores. O ruim é o quebra quebra. E você viu que a passagem não aumentou e todo mundo sobreviveu, o governo, as empresas… Então, talvez, não tivesse necessidade daquele aumento. E acho que isso inspirou essa rapaziada que segurou a greve. Quando está todo mundo junto, não tem como.
UOL: Quais as maiores dificuldades da cidade atualmente?
Haroldo: Como gari, para mim, o problema mais sério que tenho contato e está precisando de uma solução é a questão dos moradores de rua. Até para a questão da limpeza urbana mesmo da cidade. Muitas vezes há uma grande dificuldade, é preciso mover um aparato grande de viaturas, tempo, dinheiro para remover as pessoas de certas localidades e estas pessoas são encaminhados para o abrigo, mas logo saem e voltam para as ruas. Você está trabalhando com pessoas. Quando você trabalha com lixo, você vai lá, tira e não tem mais. Com as pessoas, não é assim. Nós precisamos achar a solução para inseri-los em uma vida social normalmente.
Gari Renato Sorriso declara apoio a colegas grevistas
UOL: E o preconceito com os garis, ainda existe?
Haroldo: Sim, existe. O preconceito no caso contra o gari é justamente porque ele é visto como o homem da sujeira, quando, na verdade, ele é o homem da limpeza. E acho que um dos pontos que ajuda a combater o preconceito é justamente o salário. Porque o preconceito em cima do gari é muito pela associação com o subemprego, a pobreza. Antigamente o salário era mesmo muito ruim. Hoje em dia não. A gente ganha a mesma coisa que muitos outros profissionais. E isso mostra que é uma profissão mais valorizada. A motivação da minha geração para entrar na Comlurb já foi outra, de melhorar de vida, de subir dentro da empresa. O preconceito mudou, melhorou bastante. O perfil do gari e da Comlurb mudaram muito para melhor ao longo dos últimos 30 anos. Estou há 29 anos [na empresa] e vi muita coisa mudar. Mas o que não acontece é a gente não limpar. Jamais deixamos de limpar.
Postado por: Bol.com.br
Foto: Júlio César Guimarães/UOL

sexta-feira, 14 de março de 2014

GARI PERCORRE 8 MIL KM PARA PAGAR PROMESSA

Homem caminha carregando cruz há 6 anos para pagar promessa em GO
Pedro Costa, 65, partiu de Pernambuco com destino à cidade de Trindade.
Ele já percorreu a pé 8 mil km para agradecer por cura de doenças.
O gari Pedro Guedes da Costa, 65 anos, já percorreu mais de oito mil quilômetros a pé, carregando uma cruz para pagar uma promessa. O homem partiu de Caruaru, em Pernambuco, e tem como destino o município de Trindade, na Região Metropolitana de Goiânia. Nesta semana, ele passou por Catalão, que fica a cerca de 235 km da cidade religiosa, conhecida como a 'Capital da fé'.
A cruz pesa cerca de 50 kg e está acoplada a um pequeno carrinho com rodízios. Apesar das rodinhas, a trajetória do idoso é árdua. Ele começou a cumprir a promessa há pouco mais de seis anos, quando deixou a cidade natal. “Eu sofria de trombose e osteoporose e já iria direto ou para a cadeira de rodas ou teria a perna cortada pelo médico. Aí fiz essa promessa, para Jesus Cristo, fui curado e estou esse tempo todo na caminhada”, afirmou.
Ao longo do percurso, o gari recolheu pedidos de outras pessoas até o Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade, onde acontece a segunda maior romaria religiosa do país. Cada fita amarrada à cruz simboliza as preces dos fiéis. Ele também carrega um carrinho, onde guarda os seus objetos pessoais.
Em cada cidade que passa, Pedro conta sobre sua promessa e recebe apoio dos moradores locais. Em Catalão não foi diferente e ele pode montar a barraca que usa para dormir na varanda de uma casa. “Onde eu chegou, graças a Deus, o povo me dá apoio. Nas fazendas, a mesma coisa. O que gosto mesmo é de dormir na mata, onde acampo e peço a Deus que mande os anjos me protegerem, aí não tenho medo de bichos. Já vi onça, jacaré, mas não fazem medo”, disse.
As pessoas que ficam sabendo sobre a trajetória do gari se admiram e dizem que essa é uma verdadeira história de fé. “Fiquei muito comovido. Encontrei ele na estrada e parei para conversar. O que ele faz não é para qualquer um, pois está há seis anos na estrada por causa da fé”, disse o motorista Bruno Mendes.
Como o idoso costuma ficar um ou mais dias nas cidades onde descansa, ele não tem uma previsão exata de quando chegará a Trindade. No entanto, acredita que está perto de cumprir a promessa e diz que se sente grato: “Eu não vou desistir, vou chegar lá, se Deus quiser. Quem sofreu mais foi Jesus Cristo. Então, eu vou continuar na minha caminhada”.
Foto: Reprodução/TV Anhanguera

quinta-feira, 13 de março de 2014

CRÔNICA SOBRE A GREVE DOS GARIS

Greve dos garis cariocas foi tapa na cara do Brasil esnobe
Sempre tive o maior respeito pelos garis. São eles que fazem aquilo que você certamente tem nojo: recolher o lixo de uma cidade inteira. Para piorar, somos um dos países mais ‘porcalhões’ do planeta, uma nação desprovida de uma única rua totalmente limpa. É, é isto mesmo. Tente encontrar um lugar sequer sem um papel amassado no chão, uma bituca de cigarro, um palito de sorvete ou qualquer outra coisa jogada por alguém. Não existe. O Brasil é um país imundo. Em vários sentidos, diga-se de passagem...
Pois não é que rolou uma greve dos garis do Rio na semana passada? Justo eles, considerados por grande parte da população como “gente desqualificada profissionalmente” - o que é um tremendo absurdo! -, como se recolher o lixo e tirar das ruas qualquer coisa que as pessoas tenham desprezado fosse um atestado de fracassado. E a turma foi esperta na hora de reivindicar melhores salários e mais benefícios para a sua profissão: escolheu exatamente o final do Carnaval, o evento que melhor representa a total falta de educação e de cidadania do brasileiro. Perfeito!
Não foram poucas as pessoas que ficaram indignadas com esta classe trabalhadora. Tenho certeza que todas elas contribuíram bastante para a imundice que assolou o Rio dias atrás. Inclusive o próprio prefeito da cidade, Eduardo Paes, flagrado pelas câmeras ao jogar um pedaço de sanduíche no chão.
A bronca desta gente tratou os garis como se fossem escravos amotinados dentro de um navio negreiro. O prefeito Eduardo Paes demitiu trezentos garis e ameaçou demitir mais novecentos, uma juíza multou o sindicato da categoria em R$ 50 mil reais por dia e este, por sua vez, tratou de “tirar o seu da reta” ao apregoar pelas mídias que a greve era “coisa de um trezentos aí”.
Foi então que aconteceu o que para alguns seria impensável: os garis saíram em passeata pelas ruas do Rio e foram... aplaudidos! É, isto mesmo. A população da tal “Cidade Maravilhosa” se pôs a bater palmas para aqueles que marchavam pela conquista de um salário minimamente digno. Até então, um gari carioca recebia R$ 803 mensais, mais um ticket de refeição diário de inaceitáveis R$ 12, sem qualquer direito a horas extras – ou seja, trabalhavam nos fins de semana, feriados, Carnaval e Ano Novo de graça!!! – ou qualquer ganho por insalubridade.
No fundo, centenas e centenas de cariocas nas calçadas fizeram questão de manifestar o seu repúdio em relação à desigualdade social decorrente da já enraizada corrupção em todas as esferas do Brasil, principalmente na classe política e também nos sindicatos, cada vez mais cúmplices dos poderosos. Os garis foram os seus “heróis”.
Vendo que a situação iria piorar em velocidade supersônica, o prefeito capitulou e, a partir de agora, cada gari carioca vai ganhar R$ 1.100, mais ticket refeição de R$ 20, direito à hora extra e 40% de insalubridade pelo trabalho que fazem.
Sei que tem gente que acha que os garis são seres invisíveis, mas torço para que até mesmo estas pessoas desprezíveis tenham percebido que tudo isto é um sinal, um fio de esperança. Talvez não estejamos tão insensíveis às humilhações impostas aos menos favorecidos...
Imagem: Latuff 2014

MURAL DO GARI